A sacola furada
De Nikkeypedia
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Há muitos anos, em uma região montanhosa do Japão, vivia uma mãe com duas filhas moças. Comentários da vizinhança davam conta de que a mais velha era bondosa e querida por todos da aldeia, enquanto a mais nova era egoísta, gananciosa e muito antipática. Apesar disso, por ser a caçula, a mãe tratava melhor a mais nova, empurrando para a mais velha todos os serviços sujos e pesados da casa. | Há muitos anos, em uma região montanhosa do Japão, vivia uma mãe com duas filhas moças. Comentários da vizinhança davam conta de que a mais velha era bondosa e querida por todos da aldeia, enquanto a mais nova era egoísta, gananciosa e muito antipática. Apesar disso, por ser a caçula, a mãe tratava melhor a mais nova, empurrando para a mais velha todos os serviços sujos e pesados da casa. |
Revisão de 17:07, 1 Abril 2008
Há muitos anos, em uma região montanhosa do Japão, vivia uma mãe com duas filhas moças. Comentários da vizinhança davam conta de que a mais velha era bondosa e querida por todos da aldeia, enquanto a mais nova era egoísta, gananciosa e muito antipática. Apesar disso, por ser a caçula, a mãe tratava melhor a mais nova, empurrando para a mais velha todos os serviços sujos e pesados da casa.
Certa ocasião, a mãe mandou que as duas fossem à floresta catar kuri (castanha). E ordenou que só voltassem quando estivessem com embornal cheio de castanhas. Assim, entregou para cada uma delas um embornal do mesmo tamanho. Acontece que a sacola da mais jovem era nova e a da mais velha, muito usada e cheia de furos.As duas andaram bastante na mata, até que encontraram um velho castanheiro esparramando sementes pelo chão. Então, começaram catar as sementes para encher logo o bornal. Apesar de a mais velha se empenhar no trabalho, à medida que colocava as castanhas por cima, elas iam vazando pelos furos e nunca ficava cheio por completo. Já a mais nova conseguiu encher com facilidade seu novo embornal.
Assim, a mais nova foi embora, enquanto a mais velha continuou catando para completar seu trabalho. Enquanto repetia o gesto de catar e ao mesmo tempo tapar os buracos com as mãos, o sol se foi e a noite chegou. Sentindo medo, resolveu voltar para casa, mas a escuridão a impedia de enxergar o caminho de volta. Andou durante algumas horas sem rumo, com temor de lobos, até que chegou a um pequeno santuário abandonado.
Quase na frente do pequeno templo havia um Jizô – estátua de pedra representando um anjo budista, protetor dos pobres e dos honestos. A moça aproximou-se da estátua e, juntando as mãos em gesto de oração, pediu ao anjo que permitisse passar a noite no santuário.
E a estátua de pedra respondeu:
– Pobre menina, se você quiser pode passar a noite aqui, porém existe um grande problema. Este local abandonado se tornou ponto de reunião dos oni, esses demônios de chifre vêm todas as noites nesta clareira para beber saquê e fazer uma grande barulheira.
– Deve ser muito perigoso, mas o que vou fazer? Não posso voltar para casa com o embornal de castanhas incompleto e corro o risco de ser devorada pelos lobos no caminho. Se eu ficar, esses demônios podem me ver e estarei perdida do mesmo modo. Que dilema. Salve-me, Jizô-san, por favor – disse a moça com lágrimas nos olhos.
– Você terá que ser corajosa. Descansará escondida atrás de mim, com aquele chapéu de palha que está pendurado no santuário. Quando os oni chegarem e estiverem fazendo festa, você deverá imitar o canto do galo batendo o chapéu de palha, para simular o bater das asas. Assim, eles irão embora pensando que vai amanhecer. E depois você poderá dormir sossegada.
A moça pegou o chapéu e sentou-se encostada atrás do Jizô, e ficou descansando. No meio da noite, conforme tinha dito o anjo budista, os demônios começaram a vir de todos os lados, cada um com um garrafão de saquê. Pouco depois, eles bebiam, cantavam e faziam jogatina... Soltavam gazes e palavrões para todos os lados. A garota estava dura de medo e rezava baixinho para não ser descoberta.
Quando a festa estava de bom tamanho, ela criou coragem e começou a imitar o canto do galo, batendo o chapéu de palha como farfalhar de asas. Os oni levaram um susto com o canto do galo.
– O galo está cantando, vai amanhecer. Vamos depressa para nossas cavernas, Amaterasu Oomikami, a Augusta Deusa Sol, vem aí.
Foi uma confusão geral. Os demônios saíram correndo para todos os lados e desapareceram dentro da mata. Assim, a moça pôde dormir sossegada no pequeno santuário.
Quando o dia chegou, diante do Jizô, a garota juntou as palmas das mãos em agradecimento e se despediu do anjo budista.
- Se você quer demonstrar gratidão, não pode ir embora deixando toda essa sujeira que os demônios fizeram na clareira do santuário. Coloque tudo no seu embornal e leve para bem longe daqui.
Na clareira, havia garrafas de saquê cheias e vazias, papéis, e muitas moedas de ouro usadas na jogatina pelos oni. A garota esvaziou seu embornal de castanhas, forrou o fundo furado com papéis e garrafas e repôs as castanhas junto com as moedas de ouro. Assim, voltou para casa feliz, pois a sacola, agora sim, estava cheia.