Miriko Satake
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No dia 10 de janeiro de 1931, o Brasil acolhia calorosamente o nascimento de mais um filho dessa terra hospitaleira. Uma brasileirinha de cabelos escuros, olhos amendoados e trazendo no coração a esperança de dias gloriosos. A coletividade japonesa, aos ecos de banzai - uma interjeição usada muito frequentemente em momentos festivos e que exprime sentido de unidade, de coesão e desejos de longevidade, uma saudação muito próximo ao nosso “viva” - saudava orgulhosamente a chegada de mais um de seus descendentes. Uma nissei. Nissei é a denominação da primeira geração de japoneses nascido fora do Japão, enquanto que issei é aquele que é natural da Terra do Sol Nascente e que começaram a chegar por aqui, oficialmente, a partir de 1908 através do navio Kasato Maru. Para a família Satake, a chegada de Miriko significava um vínculo mais intenso com o país que os recebera e que estava se tornando a sua segunda pátria. Imigrantes, como muitos outros, chegou ao Brasil em busca de uma vida melhor e, que a situação em que o Japão se encontrava não lhes mostrava perspectiva. Apesar das dificuldades jamais esmoreceu ou perdeu as esperanças. Superando obstáculos para vencer mais um dia, conseguiu com honestidade e dignidade criar e educar os filhos, dentro dos padrões japoneses, onde estão sempre inseridos: o respeito, a união, a disciplina, o amor, a fé.
Os primeiros imigrantes que aportaram por aqui almejando prosperidade logo viram suas vidas atreladas à dureza do campo, e o ideal de retornar ao país de origem dissipando pouco a pouco. Adentrando o interior, desbravando matas, foram formando importantes núcleos na região de Iguape, Vale do Ribeira e na Noroeste de São Paulo, uns e outros foram destinados ao Amazonas, Pará e Paraná, com o objetivo de se tornarem independentes. Mas essa aventura lhes custou muito caro, custaram vidas, ao deparar-se com um inimigo desconhecido. Os brasileiros acreditavam que os japoneses não a temiam, habitantes da região temperada, simplesmente desconheciam a febre amarela, e famílias, quase inteiras, foram dizimadas. Nessas zonas pioneiras, além da inacessibilidade ao atendimento médico, as condições de vida eram bastante precárias, agravado ainda pelas mudanças do regime alimentar e pelas condições de trabalho. Esta e outras várias doenças acometeram os japoneses, tornando a vida mais difícil nessa fase de adaptação, levando o governo japonês a subsidiar os serviços de assistência médica e sanitária, criando a Sociedade Japonesa de Beneficência no Brasil, em 1924. Com o apoio das Associações de Japoneses da área procurou amenizar esses males fazendo campanhas, distribuindo remédios, fazendo pesquisas, formando profissionais de saúde. E montou postos de Saúde nos municípios onde havia grande agrupamento de japoneses. Em Campos do Jordão, em 1931, fundou o Sanatório São Francisco Xavier para atender as vítimas de tuberculose pulmonar. Em 1939 foi inaugurado, em São Paulo, o Hospital Japonês, atualmente conhecido como Hospital Santa Cruz. Enquanto se viam presos a essa existência o tempo passava e as gerações que surgiam iam abrindo caminho, sem alarde, sem querela, apenas conquistando seu espaço com esforço e persistência. Se antes eles se dedicavam ao setor primário, os descendentes, agora, já desempenhavam o seu papel no setor secundário, principalmente no início da década de 40, devido à intensificação do processo de industrialização e urbanização no país, mais propriamente na região sudeste. Ou no setor terciário, atividades ligadas à prestação de serviços, como o comércio, transporte, atividades liberais, educação e outros, em conseqüência da melhoria no segundo setor. Como a maioria dos japoneses que aqui chegaram, a família Satake optou por morar numa cidade do interior paulista onde se concentrava um grande número de conterrâneos. A família Satake era composta de oito filhos, sendo o primogênito o único homem da família, mas que infelizmente fez parte na lista de estatística das vítimas provocadas pela epidemia de febre amarela que ocorreu no Brasil, no frescor de seus quinze anos de idade. A falta desse filho causou um desfalque muito grande na família. Na cultura japonesa o filho mais velho, do sexo masculino, já nasce com uma incumbência predestinada. A ele cabe um status hierarquicamente superior, cabendo aos demais respeitá-lo e obedecer-lhe. É de sua responsabilidade também a continuidade da linhagem dentro de um casamento endogâmico; assegurar o prosseguimento dos empreendimentos da família, bens estes que farão parte de sua herança; permanecer no local e principalmente cuidar dos pais idosos juntamente com a esposa. Ao primogênito cabe o direito de sair de casa somente quando ele for atrás de recursos para enviar e suster os que ficaram. Portanto, para os pais, o filho homem mais velho tem um significado muito mais forte que os demais e vai muito além do amor paternal, é o próprio estigma do esteio. Vencido a tragédia, Miriko passou a infância e grande parte de sua juventude aí, muito bem integrada às duas comunidades: a brasileira e nipônica. Para as mulheres dessa época, mais, sobretudo às japonesas o mercado de trabalho não oferecia muitas opções, a maioria se dedicava ao trabalho doméstico e ajudava na lida do campo. Àquelas que tinham oportunidade ou um espírito mais independente o mais comum era se dedicarem ao magistério, ao corte e costura, a maioria como autônomas, ou se tornavam cabeleireiras, entre outras poucas variantes. Raramente tinham condições de prosseguir nos seus estudos, principalmente freqüentar uma faculdade. Mas, independente do que faziam eram bastante eficientes, conquistavam muito respeito e eram bastante requisitadas. As atividades sociais dos japoneses eram organizadas em Associações. Geralmente, onde havia um grupo razoável de nipônicos, havia sempre uma agremiação onde eles se encontravam para conversar, discutir assuntos pertinentes à colônia e a terra natal e dessa maneira amenizar as saudades, se divertir e, assim manter viva, unida e sempre ativa a cultura, para o bem comum dessa coletividade e dos que vierem atrás, no rastro desse DNA. No ano de 1954, data em que a cidade de São Paulo comemorava o seu quarto centenário, o governo municipal planejou uma grande festa que durou três dias, inesquecível para muitos paulistanos. Com o patrocínio de uma indústria metalúrgica e colaboração da Associação das Emissoras de São Paulo e da Força Aérea Brasileira provocou uma chuva de prata sobre a cidade, iluminada por holofotes posicionados em locais estratégicos as lâminas confeccionadas em papel prateado causaram muita emoção e deixaram a população perplexa e maravilhada. Um evento grandioso e sem precedentes que vinha sendo organizado com anos de antecedência, com muitas melhorias e reformas na cidade e que culminou na criação do Parque do Ibirapuera, hoje um ponto turístico imperdível dentro da cidade de São Paulo, com projetos de Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx. No parque foi destinado um espaço à difusão da cultura do Japão e sua comunidade residente no Brasil, abrigando obras de arte, carpas coloridas e um imenso jardim japonês, conhecido como o Pavilhão Japonês. Entre os programas culturais e comemorativos do IV Centenário foi planejada a organização de um concurso de beleza dentro do núcleo de imigrantes japoneses, com a convocação de várias Associações Japonesas espalhadas pelos diversos municípios. Lins, uma cidade a 383 km de São Paulo, na região Noroeste Paulista, era um dos municípios com uma grande concentração de japoneses nessa época, elegeu Miriko Satake, aos 23 anos de idade e proprietária de um Instituto de Beleza, como sua representante.
Bastante tímida, inicialmente ela relutou, pois nunca havia participado ou ouvido falar de evento semelhante. Mas devido à insistência dos organizadores acabou aceitando o convite e no dia 24 de julho o Brasil era apresentado ao esplendor da beleza exótica oriental, abrilhantando ainda mais a festa comemorativa de São Paulo. Vencendo todas as demais candidatas, tomada de comoção e debaixo de muitos aplausos do público, foi coroada pelo cônsul Geral do Japão, Sr. Tiba Saryodi, que veio ao Brasil acompanhado do 1º ministro do Japão como representantes oficiais do seu país, pela primeira vez, após o encerramento da 2ª Guerra.
O desfile foi em traje de gala e também com um quimono bem ao estilo japonês e muito apropriado para o 1º Concurso de Miss Nissei realizado no Brasil. E se sentiu bastante orgulhosa por representar a colônia japonesa num evento de tamanha grandeza e importância para os paulistanos e que repercutiu pelo país inteiro. Mas principalmente por dar enfoque e mostrar aos brasileiros a importância dos nipônicos dentro do cenário desse país. Levantando-lhes a auto-estima tolhida num passado próximo, tanto pela derrota quanto pelo governo, quando este limitou qualquer manifestação pública dos japoneses durante a 2ª guerra; conforme relata:- “Senti-me honrada ao vencer o concurso, mas muito mais depois de algum tempo ao perceber que este fato colocaria em evidência a colônia japonesa já numerosa aqui no Brasil, mas ainda misteriosa ao povo brasileiro. Isso ocorreu por ter sido entrevistada por vários jornais e revistas da época. Tive, assim, a oportunidade de falar sobre alguns costumes japoneses que seus descendentes ainda tinham fortemente enraizado como sendo a 1a geração de brasileiros filhos de japoneses”.
No ano seguinte casou-se com o engenheiro e arquiteto Yukio Yasuda, formado pela Faculdade Politécnica da USP, com quem já se relacionava antes do concurso, passando a assinar Miriko Yasuda. E desde então, deixou o interior e veio morar em São Paulo, onde permanece até hoje. Depois deste episódio marcante conquistou mais dois grandes prêmios, seus filhos, Dante e Miliza, a 2ª geração de japoneses nascidos fora do Japão, portanto denominado “sansei”. Dante é engenheiro, formado pela faculdade de Engenharia Mackenzie com Pós Graduação em Administração pela Fundação Getúlio Vargas e com Pós Graduação em Planejamento e Análise de Sistemas pela Universidade de Kyoto, hoje Executivo do Grupo DENSO, casado com Christina Yasuda. E Miliza Yasuda, advogada, casada com o Arquiteto Eduardo Tadashi Kuguimiya. Atualmente não tem o hábito de acompanhar concursos similares, e nunca incentivou sua filha ou a neta a participar, pois acredita que elas têm o livre arbítrio para escolher e fazer as suas próprias opções na vida. Até hoje ainda é lembrada como a 1ª Miss Nissei e, modestamente, se surpreende por isso, -“mas também tenho grande satisfação ao ouvi-los dizer que se recordam de mim não só como um símbolo da beleza, mas como um símbolo da colônia japonesa no Brasil”. São essas as boas recordações que guardará para sempre, com carinho, de um tempo que foi intensamente vivido.
Ultimamente tem no gateball a sua satisfação e dedicar se aos netos, os “yonseis”, Estéfano, filho de Dante e Talessa, de Miliza, as suas maiores alegrias.
Agradecimentos a Miliza Yasuda pela colaboração.