Kanzakura

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 +Em Mimasaka no Kuni (país de Mimasaka), hoje província de Okayama, havia uma pequena aldeia de nome Kagami, onde até hoje existe um solo sagrado com um templo centenário shintô dedicado à divindade Musubi no Kami, deus do amor e da união.
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 +Nesse solo sagrado ao redor do templo havia uma velha e magnífica cerejeira chamada Kanzakura, ou cerejeira sagrada. Próximo dela foi construído o templo dedicado ao deus do amor.
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 +Na pequena vila de Kagami morava um homem muito rico chamado Sodayu. Ele era viúvo e tinha uma encantadora filha, de 17 anos, chamada Hanano. Um dia, Sodayu achou que a filha estava na idade de contrair matrimônio.
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 +- Minha menina - disse o pai - devemos proceder como manda a tradição. O tempo passou e minha criança já está na idade de encontrar um marido. Minha obrigação é arranjar um bom noivo para você.
 +
 +Hanano contou a novidade à governanta Yuka, pedindo que ela encontrasse alguém para gostar. Yuka respondeu que era difícil encontrar uma pessoa que a merecesse, porém sugeriu que sua jovem patroa fosse rezar no templo de Musubi no Kami.
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 +- Para isso, terá que orar 21 dias seguidos no terreno sagrado.
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 +Hanano gostou da sugestão e, nesse mesmo dia, partiu em companhia de Yuka em direção do santuário. Dia após dia ela orou, até que chegou o 21º dia. Terminadas as orações, elas voltavam passando sob a grande cerejeira sagrada, que estava em plena floração. Viram que perto do tronco havia um jovem, com cerca de 21anos. Era um belo rapaz com olhos expressivos e tinha na mão um galho de cerejeira carregada de flores. Para surpresa das duas, ele deu um agradável sorriso para Hanano e veio ao encontro dela. Gentilmente, entregou as flores para Hanano, curvando em reverência, e afastou-se em seguida.
 +
 +Hanano vibrou de emoção. Ficou muito feliz, pois sentiu que o deus do amor e da união havia mandado aquele belo jovem em resposta às suas preces.
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 +- Yuka, eu estou muito feliz. Como você disse, o deus Musubi me enviou esse lindo rapaz. Valeu a pena ficar orando durante 21 dias.
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 +Na cidade vizinha, havia um samurai de nome Tokunosuke que, ao ficar sabendo que Sodayu procurava um noivo para a filha, resolveu ir pessoalmente se apresentar como pretendente.No dia seguinte, o moço foi visitar o pai de Hanano. A certa altura da conversa, Hanano foi chamada para servir chá ao visitante. Depois que ele foi embora, o pai disse que aquele é o rapaz que ele escolheu para ser seu esposo.
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 +- Ele é de uma família rica. Seu pai é meu amigo. E o rapaz diz que já faz um tempo que está apaixonado por você.
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 +Hanano nada disse, pediu licença a seu pai e retirou-se para seu quarto de cabeça baixa. Sodayu comentou com Yuka:
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 +- Encontrei um ótimo pretendente para minha filha, mas ela em vez de mostra-se feliz, saiu às pressas para o quarto. Você pode explicar-me a razão? Você deve saber seus segredos.
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 +Yuka a princípio vacilou em responder, mas achou que para o bem da menina devia contar toda a verdade. Assim, relatou o encontro da Hanano com o jovem desconhecido.
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 +Na manhã seguinte, Tokunosuke veio a casa de Sodayu e ouviu de Hanano que não poderia casar-se com ele, pois amava um rapaz desconhecido.
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 +O jovem que amava Hanano ficou desesperado. E revolveu segui-la para saber quem era seu rival.
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 +Na tarde desse mesmo dia, Hanano e Yuka foram ao templo. Mais uma vez o jovem estava sob a cerejeira florida e, vendo a garota, se aproximou com um ramo florido e a ofereceu sem dizer uma palavra.
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 +Tokunosuke, que estava escondido atrás de um torô (lanterna de pedra), assistiu a tudo com o coração apertado.
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 +Quando Hanano e Yuka foram embora, Tokunosuke saiu de seu esconderijo e abordou o jovem em tom rude.
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 +- Quem é você, seu conquistador barato? Dê seu nome e endereço, quero saber se é digno ao amor da bela Hanano.
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 +O jovem nada respondeu, limitou-se a fitá-lo com seu olhar penetrante. Isso deixou Tokunosuke mais irritado. O samurai sacou de sua espada e atacou com um violento golpe em direção do jovem. Agarrando um galho pendente numa esquiva rápida, o jovem misturou-se às fartas flores de cerejeiras. Nesse momento, uma chuva de pétalas caiu sobre o samurai, cegando-o momentaneamente.
 +
 +Quando a chuva de pétalas acalmou, Tokunosuke pôde perceber que o jovem havia desaparecido e sua espada estava clavada no tronco da cerejeira. Nisso, um dos sacerdotes do templo veio correndo e gritando:
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 +- Seu malfeitor desalmado! Feriste o tronco da cerejeira sagrada. Por que tanta violência?
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 +Tokunosuke pediu desculpas de joelho e contou ao religioso o que tinha acontecido. E o sacerdote explicou:
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 +- Esta árvore é sagrada porque tem um espírito sagrado. Às vezes, o espírito da árvore se manifesta sob forma de um jovem diante do tronco. É a esse espírito que você tentou ferir com sua espada.
 +
 +Tokunosuke deixou o solo sagrado e foi direto para casa de Sodayu. E contou a ele tudo o que tinha visto e ouvido.
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 +- Talvez agora sua filha aceite casar-se comigo, pois não pode se casar com um espírito sagrado, não é mesmo?
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 +Hanano foi chamada para saber do acontecido. O resultado foi o mais inesperado possível.
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 +- Não sei o que dizer. Cometi uma blasfêmia, fui me apaixonar por um deus da natureza - gritava completamente fora de si. - Tenho que orar bastante no templo para ser perdoada.
 +
 +Assim, Hanano, mais uma vez, recusou-se a casar com Tokunosuke e resolveu se internar em um templo e se dedicar à vida religiosa. Com o consentimento de seu pai, foi viver num templo, raspando a cabeça e vestindo um hábito branco. Hanano passou a viver sua nova vida varrendo o chão do jardim, cuidando das plantas e fazendo muitas orações. Dizem que quando ela morreu, foi enterrada no solo sagrado e, de seu túmulo, nasceu uma nova cerejeira. Hoje, essa cerejeira floresce todos os anos ao lado da cerejeira grande sagrada.
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 +=={{Ligações externas}}==
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 +*[http://www.nippobrasil.com.br Nippo Brasil ]
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 +[[Categoria:Mitologia do Japão|*]]
 +[[Categoria:Cultura japonesa]]

Revisão de 17:18, 1 Abril 2008

Em Mimasaka no Kuni (país de Mimasaka), hoje província de Okayama, havia uma pequena aldeia de nome Kagami, onde até hoje existe um solo sagrado com um templo centenário shintô dedicado à divindade Musubi no Kami, deus do amor e da união.

Nesse solo sagrado ao redor do templo havia uma velha e magnífica cerejeira chamada Kanzakura, ou cerejeira sagrada. Próximo dela foi construído o templo dedicado ao deus do amor.

Na pequena vila de Kagami morava um homem muito rico chamado Sodayu. Ele era viúvo e tinha uma encantadora filha, de 17 anos, chamada Hanano. Um dia, Sodayu achou que a filha estava na idade de contrair matrimônio.

- Minha menina - disse o pai - devemos proceder como manda a tradição. O tempo passou e minha criança já está na idade de encontrar um marido. Minha obrigação é arranjar um bom noivo para você.

Hanano contou a novidade à governanta Yuka, pedindo que ela encontrasse alguém para gostar. Yuka respondeu que era difícil encontrar uma pessoa que a merecesse, porém sugeriu que sua jovem patroa fosse rezar no templo de Musubi no Kami.

- Para isso, terá que orar 21 dias seguidos no terreno sagrado.

Hanano gostou da sugestão e, nesse mesmo dia, partiu em companhia de Yuka em direção do santuário. Dia após dia ela orou, até que chegou o 21º dia. Terminadas as orações, elas voltavam passando sob a grande cerejeira sagrada, que estava em plena floração. Viram que perto do tronco havia um jovem, com cerca de 21anos. Era um belo rapaz com olhos expressivos e tinha na mão um galho de cerejeira carregada de flores. Para surpresa das duas, ele deu um agradável sorriso para Hanano e veio ao encontro dela. Gentilmente, entregou as flores para Hanano, curvando em reverência, e afastou-se em seguida.

Hanano vibrou de emoção. Ficou muito feliz, pois sentiu que o deus do amor e da união havia mandado aquele belo jovem em resposta às suas preces.

- Yuka, eu estou muito feliz. Como você disse, o deus Musubi me enviou esse lindo rapaz. Valeu a pena ficar orando durante 21 dias.

Na cidade vizinha, havia um samurai de nome Tokunosuke que, ao ficar sabendo que Sodayu procurava um noivo para a filha, resolveu ir pessoalmente se apresentar como pretendente.No dia seguinte, o moço foi visitar o pai de Hanano. A certa altura da conversa, Hanano foi chamada para servir chá ao visitante. Depois que ele foi embora, o pai disse que aquele é o rapaz que ele escolheu para ser seu esposo.

- Ele é de uma família rica. Seu pai é meu amigo. E o rapaz diz que já faz um tempo que está apaixonado por você.

Hanano nada disse, pediu licença a seu pai e retirou-se para seu quarto de cabeça baixa. Sodayu comentou com Yuka:

- Encontrei um ótimo pretendente para minha filha, mas ela em vez de mostra-se feliz, saiu às pressas para o quarto. Você pode explicar-me a razão? Você deve saber seus segredos.

Yuka a princípio vacilou em responder, mas achou que para o bem da menina devia contar toda a verdade. Assim, relatou o encontro da Hanano com o jovem desconhecido.

Na manhã seguinte, Tokunosuke veio a casa de Sodayu e ouviu de Hanano que não poderia casar-se com ele, pois amava um rapaz desconhecido.

O jovem que amava Hanano ficou desesperado. E revolveu segui-la para saber quem era seu rival.

Na tarde desse mesmo dia, Hanano e Yuka foram ao templo. Mais uma vez o jovem estava sob a cerejeira florida e, vendo a garota, se aproximou com um ramo florido e a ofereceu sem dizer uma palavra.

Tokunosuke, que estava escondido atrás de um torô (lanterna de pedra), assistiu a tudo com o coração apertado.

Quando Hanano e Yuka foram embora, Tokunosuke saiu de seu esconderijo e abordou o jovem em tom rude.

- Quem é você, seu conquistador barato? Dê seu nome e endereço, quero saber se é digno ao amor da bela Hanano.

O jovem nada respondeu, limitou-se a fitá-lo com seu olhar penetrante. Isso deixou Tokunosuke mais irritado. O samurai sacou de sua espada e atacou com um violento golpe em direção do jovem. Agarrando um galho pendente numa esquiva rápida, o jovem misturou-se às fartas flores de cerejeiras. Nesse momento, uma chuva de pétalas caiu sobre o samurai, cegando-o momentaneamente.

Quando a chuva de pétalas acalmou, Tokunosuke pôde perceber que o jovem havia desaparecido e sua espada estava clavada no tronco da cerejeira. Nisso, um dos sacerdotes do templo veio correndo e gritando:

- Seu malfeitor desalmado! Feriste o tronco da cerejeira sagrada. Por que tanta violência?

Tokunosuke pediu desculpas de joelho e contou ao religioso o que tinha acontecido. E o sacerdote explicou:

- Esta árvore é sagrada porque tem um espírito sagrado. Às vezes, o espírito da árvore se manifesta sob forma de um jovem diante do tronco. É a esse espírito que você tentou ferir com sua espada.

Tokunosuke deixou o solo sagrado e foi direto para casa de Sodayu. E contou a ele tudo o que tinha visto e ouvido.

- Talvez agora sua filha aceite casar-se comigo, pois não pode se casar com um espírito sagrado, não é mesmo?

Hanano foi chamada para saber do acontecido. O resultado foi o mais inesperado possível.

- Não sei o que dizer. Cometi uma blasfêmia, fui me apaixonar por um deus da natureza - gritava completamente fora de si. - Tenho que orar bastante no templo para ser perdoada.

Assim, Hanano, mais uma vez, recusou-se a casar com Tokunosuke e resolveu se internar em um templo e se dedicar à vida religiosa. Com o consentimento de seu pai, foi viver num templo, raspando a cabeça e vestindo um hábito branco. Hanano passou a viver sua nova vida varrendo o chão do jardim, cuidando das plantas e fazendo muitas orações. Dizem que quando ela morreu, foi enterrada no solo sagrado e, de seu túmulo, nasceu uma nova cerejeira. Hoje, essa cerejeira floresce todos os anos ao lado da cerejeira grande sagrada.


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