Tsuneshi Sano
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Por isso teve o reconhecimento por parte do governo daquela província que o contemplou com uma homenagem, quando já apresentava graves problemas em seu estado de saúde, pouco antes de falecer. '''Tsuneshi''' sempre foi assim. Em Fernandópolis, por exemplo, foi considerado o maior cabo eleitoral dos candidatos nikkeis aos pleitos regionais e nacional. Em São Paulo, fazia o mesmo cobrindo completamente o seu fusquinha com cartazes dos candidatos (veja na foto) e levando sempre consigo uma pequena escada para colá-los também nos postes. Mas era também um entusiasta dos desempenhos dos [[nikkei]]s em todas as áreas. Nos dias seguintes dos exames vestibulares, por exemplo, pegava as listas dos aprovados nos jornais e ficava em cima delas grifando em vermelho os nomes [[nikkei]]s, para depois contá-los, um a um. | Por isso teve o reconhecimento por parte do governo daquela província que o contemplou com uma homenagem, quando já apresentava graves problemas em seu estado de saúde, pouco antes de falecer. '''Tsuneshi''' sempre foi assim. Em Fernandópolis, por exemplo, foi considerado o maior cabo eleitoral dos candidatos nikkeis aos pleitos regionais e nacional. Em São Paulo, fazia o mesmo cobrindo completamente o seu fusquinha com cartazes dos candidatos (veja na foto) e levando sempre consigo uma pequena escada para colá-los também nos postes. Mas era também um entusiasta dos desempenhos dos [[nikkei]]s em todas as áreas. Nos dias seguintes dos exames vestibulares, por exemplo, pegava as listas dos aprovados nos jornais e ficava em cima delas grifando em vermelho os nomes [[nikkei]]s, para depois contá-los, um a um. |
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Tsuneshi Sano
Nasceu no dia 30 de março de 1911, na província de Mie, no Japão, filho primogênito de Tsuneichi e Kiyo Sano. Desembarcou no porto de Santos, no dia 17 de julho de 1918, aos 7 anos, com a família, a bordo do vapor Wakasa Maru. Juntos, além dos pais, vieram também os demais irmãos Tsuneo(5), Tsunehiro (3), Tamao (1) e um tio, Yoshimi (15), irmão mais novo do pai.
A família dele pode ser considerada padrão para imigração japonesa no Brasil, se não, vejamos: emigrou devido à crise econômica que assolava o país na época, atraída pela propaganda enganosa do enriquecimento fácil, das “árvores dos frutos de ouro” (café); trouxe junto alguém de fora da família (tio Yoshimi) a fim de pudessem atender a exigência da Imigração, na época, de três mãos produtivas por família (idade mínima = 12 anos); teve um membro da família (a bebê Tamao) falecido durante a viagem de vinda, correndo o risco de vê-lo sendo jogado ao mar, praxe na época (conseguiram escondê-lo e enterrá-lo em terra brasileira); passou pela Hospedaria dos Imigrantes, antes de se dirigir à uma determinada fazenda; teve o pai falecido, acometido de febre amarela, pouco mais de quatro anos depois de desembarcarem no país, deixando esposa e o irmão Yoshimi como únicas mãos produtivas, além dos seis filhos (mais três nascidos nesse período), todos menores de idade (Tsuneshi, o primogênito, tinha ainda 11); passou, devido a isso, por períodos de privações (inclusive, atingidos por dois incêndios em suas moradias); superou todas as adversidades e ainda conseguiram que 95% dos 35 netos de Tsuneichi chegasse às universidades, além do filho caçula, Paulo, irmão mais novo de Tsuneshi, e que se formou médico; estabeleceu-se pela primeira vez em área urbana (Onda Verde, próximo a São José do Rio Preto), onde deu início à estabilização; migrou-se para Vila Pereira (atual Fernandópolis), onde estabeleceu-se de vez; marcou presença na comunidade japonesa local, com Tsuneshi sendo o baluarte para a construção do “kaikan” (clube japonês); e, finalmente, um dos filhos, exatamente Tsuneshi, resolveu enfrentar o desafio de vencer também na cidade grande, capital do Estado, formando seus sete filhos e servindo de alavanca, no início, aos primeiros sobrinhos que resolveram também buscar a cidade grande.
A vinda para São Paulo se deu no início do ano de 1961, a fim de não prejudicar os estudos dos filhos. Enquanto os móveis eram transportados de caminhão, num percurso de 550 km, a família locomoveu-se de trem até a capital. A primeira residência foi um sobrado alugado porque, afinal, a família era composta por 9 pessoas e mais um sobrinho, o primeiro a acompanhar sua família à cidade grande.
Três anos depois, construiu residência-própria também na Capital. Assim como em Fernandópolis, quando contribuiu enormemente para a comunidade japonesa local, tão logo teve conhecimento da Associação Mei Kenjin do Brasil passou também a colaborar com a mesma, de modo abnegado, até o final de seus dias.
Por isso teve o reconhecimento por parte do governo daquela província que o contemplou com uma homenagem, quando já apresentava graves problemas em seu estado de saúde, pouco antes de falecer. Tsuneshi sempre foi assim. Em Fernandópolis, por exemplo, foi considerado o maior cabo eleitoral dos candidatos nikkeis aos pleitos regionais e nacional. Em São Paulo, fazia o mesmo cobrindo completamente o seu fusquinha com cartazes dos candidatos (veja na foto) e levando sempre consigo uma pequena escada para colá-los também nos postes. Mas era também um entusiasta dos desempenhos dos nikkeis em todas as áreas. Nos dias seguintes dos exames vestibulares, por exemplo, pegava as listas dos aprovados nos jornais e ficava em cima delas grifando em vermelho os nomes nikkeis, para depois contá-los, um a um.
Tsuneshi casou-se com Fusako Ogura Sano, filha primogênita de Kanetaro Ogura, pela forma tradicional do Omiai (leia crônica, abaixo, escrita por seu filho Silvio Sano), com quem teve sete filhos, em um casamento que durou mais de 50 anos
Casamento de Tsuneshi – por Omiai
(crônica do livro Confrontos & Conflitos, de Silvio Sano)
“Certa vez, no Japão, um jovem, nativo, chocou-me ao revelar que quando chegasse a hora de se casar pediria ao pai para que lhe procurasse uma noiva, pelo esquema tradicional do omiai (casamento por apresentação). O rapaz tinha apenas vinte e três anos. Apesar de ocorrido há muito tempo, quando eu era quase tão jovem quanto ele, nessa época, minha cabeça já admitia, como natural, apenas o ren ai (casamento por amor). Hoje, em virtude da ainda fortíssima convivência dos ‘dois Japãos’, acredito que ainda existam jovens japoneses pensando como ele e que um casamento assim pode até dar certo, devido à formação cultural.
Poderia citar inúmeros exemplos de omiai que deram certo, mas vou me restringir ao caso de meus pais. Conheceram-se, efetivamente, no dia do casamento, apesar de minha mãe já ter visto meu pai, por uma fresta da porta, quando, com o meu avô, fora oficializar o pedido. Pior, meu pai era o primogênito. Ou seja, pela cultura japonesa, minha mãe teria de conviver e cuidar também dos irmãos mais novos... até que se casassem. E tiveram sete filhos. Na verdade, sozinha, cuidou de oito... com o marido. Afora as broncas que dava nele, iguais às que dava em nós, filhos, não tenho lembrança de nenhuma rusga comprometedora. Eles cumpriam bem os seus papéis. Até ultrapassaram as Bodas de Ouro! Mas um dia, ele se foi. Não sem antes dar mais um pouquinho de trabalho à minha mãe. E ela cuidou do ‘velho’, enfermo, por mais sete anos com uma dedicação e carinho de dar inveja a qualquer casamento à ren ai...
Ou seja, em tudo, é só uma questão de assumir, com respeito mútuo. Como, certa vez, a uma pergunta que fiz à minha mãe sobre amar o papai. ‘Fazer o quê? Tenho de aguentá-lo, né!’, respondeu-me... COM AMOR!”