Categoria:Imigrantes:Shindo Renmei
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Shindo Renmei (em japonês liga do caminho dos súditos) foi uma organização extremista criada no Brasil em 1942 por imigrantes japoneses que não admitiam a derrota do império do Japão frente aos aliados na Segunda Guerra Mundial.
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[editar] Antecedentes
[editar] O início da imigração
Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil em 1908. Vinham para trabalhar principalmente na cafeicultura. A grande maioria pretendia fazer fortuna e depois para retornar ao Japão. Foram vários os fatores que levaram ao início desta imigração: a superpopulação nas áreas rurais japonesas, o desejo do império do Japão de espalhar sua cultura e etnia pelo mundo e a necessidade de mão-de-obra na agricultura brasileira. A imigração nipônica teve início após um acordo firmado entre Brasil e Japão. Pouco depois, ocorreram problemas de adaptação e convivência o que levou a atritos sérios entre trabalhadores japoneses e fazendeiros. Este fato levou o Brasil a impedir a entrada de novos imigrantes japoneses. Durante a Primeira Guerra Mundial, vários países deixaram de aceitar imigrantes nipônicos e em outros estes eram mal recebidos. Por isso o Brasil passou a ser uma de suas poucas alternativas.
No período entre guerras ocorreu um enorme aumento deste fluxo migratório. Este, cessou no começo da Segunda Guerra Mundial, foi proibido em 1942 quando o Brasil entrou no conflito e reiniciou-se ao seu término. O Brasil possuía já na década de 1930, a maior comunidade de imigrantes japoneses do mundo.
[editar] A difícil adaptação
Os recém-chegados depararam-se uma terra completamente diferente de sua pátria: língua, costumes, religião, alimentação, clima, enfim, tudo era diferente daquilo a que eles estavam acostumados. Como era quase impossível alcançar o objetivo de enriquecer, muitos tentaram retornar ao Japão. Eram impedidos por fazendeiros e governo que exigiam que os contratos de trabalho fossem cumpridos.
[editar] A discriminação
O preconceito contra imigrantes asiáticos era claro. A política racial da República Velha pretendia "branquear" o Brasil. Europeus como alemães e italianos tinham a preferência para entrar no país. Nesse contexto, o imigrante japonês era visto com desconfiança já que possuía hábitos completamente diferentes dos brasileiros e de outros estrangeiros. Organizava-se em comunidades fechadas onde muitos sequer aprenderam a língua portuguesa e evitavam contatos com os brasileiros e até com outras comunidades de imigrantes. Estes fatos contribuíram ainda mais para aumentar a desconfiança contra eles.
[editar] Termos
- Kachigumi: - eram aqueles que acreditavam fanaticamente na vitória do Japão. Nem todos aderiram às ações da Shindo Renmei e eram apenas simpatizantes. Era o grupo mais humilde da comunidade. Desejavam o retorno à pátria e eram mais numerosos.
- Makegumi: - derrotistas (também chamados de corações sujos). Grupo que aceitou a derrota japonesa e que por isso eram considerados traidores. Formavam o grupo mais próspero da colônia melhor informados e melhor adaptados ao Brasil.
- Tokkotai: - membros da organização encarregados das execuções. Eram sempre jovens, utlizavam armas de fogo e a espada katana. Não consideravam-se criminosos. Após as execuções entregavam-se expontâneamente às autoridades.
[editar] Nascimento
Em 18 de abril de 1938 o Estado Novo instituiu o decreto nº 383 que determinava várias proibições aos estrangeiros: não poderiam participar de atividades políticas, formar qualquer tipo de associação, ficavam proibidos de falar japonês em público ou ensina-lo. A transmissão de programas de rádio e quaisquer publicações (jornais, revistas etc.) neste idioma foram proibidos. Este decreto foi terrível para esta comunidade. Por tratar-se de um grupo fechado onde muitos sequer falavam português teve início um período de grande desinformação.
Na realidade a Shindo Renmei não foi a primeira organização patriótica criada por colonos japoneses no Brasil. Existiram várias outras. De fato, a Shindo Renmei pode ser considerada "derivada" de outro organização chamada "Pia". Tratava-se de uma caixa beneficiente criada para prestar ajuda aos membros pobres da Colônia e surgiu por iniciativa de católicos japoneses (Keizo Ishihara, Margarida Watanabe e Massaru Takahashi) que contava com a aprovação da Igreja Católica e das autoridades. Junji Kikawa ex coronel do exército japonês e futuro fundador da Shindo Renmei participou das atividades desta Instituição. Em 1944, desligou-se desta entidade beneficiente pois sua diretoria não aceitava suas idéias. Junji Kikawa aconselhava agricultores japoneses a abandonarem ou destruírem suas plantações de seda (usada na fabricação de para-quedas para os aliados) e hortelã (o mentol seu derivado tornava a nitroglicerina mais potente era usado para resfriar motores e podia ser tóxico).
Em 1942, após um grave e violento incidente ocorrido na cidade de Marília envolvendo brasileiros e japoneses o ex-coronel Junji fundou a Shindo Renmei. Esta organização estava sediada na rua Paracatu 96 bairro da Saúde na cidade de São Paulo. Possuía 64 filiais nos estados de São Paulo e Paraná. Mantinha-se com doações de seus filiados os Kachigumi (aqueles que acreditavam na vitória). No fim da guerra seus integrantes recusaram-se a acreditar na derrota. Seus objetivos passaram a ser: punir os Makegumi (derrotistas) , divulgar a "verdade" (que o Japão vencera a guerra) e defender a honra do imperador.
[editar] As ações
- Guerra de informação
Os integrantes da organização acreditavam firmemente que as notícias sobre a derrota do Japão eram falsas. Assim criram uma rede de comunicação para divulgar a "verdade": que o Japão vencera a guerra. Jornais e revistas em japonês passaram a circular divulgando essa idéia e estações de rádio clandestinas foram colocadas no ar.
- Ações violentas
Kamegoro Ogasawara dono da tituraria Oriente na cidade de São Paulo era o coordenador das ações punitivas efetuadas pela organização. Era desta tinturaria que normalmente partiam os Tokkotai para executar aqueles que eram considerados traidores da pàtria. Várias pensões de japoneses abrigavam os executores após suas ações. Uma delas a pensão Cruzeiro cujo proprietário era Mongo Yoshizago localizava-se na rua Barão de Duprat 119. Foram elaboradas listas com os nomes dos traidores que deveriam morrer. Os executores cumpriam um ritual: cartas de suícidio eram entregues às vítimas que deveriam lê-las. Depois disso deveriam suicidar-se com uma faca abrindo o próprio ventre onde seria colocada uma bandeira imperial do Japão. Os que recusavam-se a cometer suícidio eram executados mesmo na presença de familiares. Nenhum dos acusados de traição listados aceitou suicidar-se. De Janeiro de 1946 ao início da 1947 a Shindo Renmei matou 23 pessoas e feriu outras 147.
[editar] Repressão e término
O pânico tomou conta da comunidade nipo-brasileira. As autoridades não tardaram a tomar providências. Mais de trinta mil japoneses foram detidos e investigados. O exército e o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS), relizaram uma verdadeira operação de guerra no interior de São Paulo. Assim as lideranças e muitos Tokkotai foram identificados e presos. Ao todo 80 integrantes da organização foram deportados para o Japão. Passadas várias décadas alguns membros da colônia japonesa no Brasil continuam acreditando que o Japão venceu a guerra. Para muitos o assuto Shindo Renmei é um tabu como o nazismo é para os alemães. Este foi o mais lamentável episódio da História da Imigração japonesa no Brasil.
[editar] Bibliografia
- MORAIS, Fernando - Corações sujos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
[editar] Ligações externas
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