Kendo

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O kendô 剣道 é uma arte marcial japonesa moderna, desenvolvida a partir das técnicas tradicionais de combate com espadas dos samurais do Japão feudal.

O praticante de kendô é chamado de kenshi ou kendoka.

Conteúdo

[editar] Breve histórico

[editar] As origens do Kendô

No Japão, desde os seus primórdios, dentre vários armamentos, a espada vem sendo reverenciada. Isso se deve ao fato de haver muitas histórias relacionadas à espada, nos mitos e lendas japonesas. Além disso, as espadas eram ofertadas como tesouro divino aos templos ou recebidas como símbolo da nomeação de um generalíssimo.

[editar] Período Edo

A partir de 1615 d.C., com o sistema feudal já instalado, foi estabelecido o sistema de classes. Esse sistema propiciou um desenvolvimento especial, como algo próprio à classe guerreira.

Logo começou a ser praticado pelos guerreiros como um treinamento educacional que visava a formação do caráter guerreiro para a vida cotidiana e para as atitudes espirituais.

Por volta de 1712 d.C., Yamada Heisaemon e Naganuma Shiro da escola Jikishinkageryu e Nakanishi Chuzo da escola Ittoryu, por sua vez, aproximadamente em 1754 d.C., propuseram protetores primitivos e, nos treinos de suas escolas, passaram a utilizar a espada de bambu (shinai), o que trouxe um formato de kendô próximo ao que conhecemos na atualidade.

Nesse método de treino eram requisitados muitos elementos espirituais, que foram cultivados, provavelmente, como pano de fundo para a manifestação da técnica dentro do processo de treinamento e como usar de forma melhor e mais correta a espada de bambu. Como conseqüência, o kendô, dentro do processo de treinamento de suas técnicas, desenvolveu a relação entre natureza humana e técnica, construindo, assim, as bases de uma filosofia do kendô como caminho de busca para a vida e a existência humana.

Do início do fechamento do Japão ao mundo exterior, em 1639, até o ano de 1866, devido à continua paz reinante, a necessidade de uso de arma de fogo foi abolida e o desenvolvimento desses artefatos interrompidos. Apesar disso, o uso da espada perdurou ao longo dos séculos. E como conseqüência de um caminho cuja técnica era posta a serviço da luta física, que punha em jogo a vida ou a morte,o kendô, acabou por atingir um elevado patamar, cujo caminho visava a educação e a formação do ser humano.

[editar] Período Meiji

Como resultado do povo japonês, que desde os seus primórdios, cultivou uma educação calcada no caminho da pena e da espada, o kendô se desenvolveu visando a formação do ser humano e propiciando o caminho do guerreiro. Toda a evolução desta arte marcial ocorreu na era feudal, que perdurou por setecentos anos, terminando em 1868.

Em 1876, a classe dos guerreiros – os samurais – foi extinta e, ao mesmo tempo, a prática de kendô nas escolas foi abolida, chegando esta arte marcial até mesmo a defrontar-se com o perigo da extinção.

Mais tarde, em 1890, o kendô volta a ser praticado nas escolas como atividade extra-curricular. Em 1895 foi criada a Associação Dai Nippon Butokukai, congregando todas as escolas de kendô. Foi estabelecida uma política de difusão e de desenvolvimento da orientação desta arte marcial.

Entre diversos mestres e escolas envolvidas nesse processo de unificação do kendô (Kendô Renmei), podemos citar:

  • Ono-ha Itto Ryu – Kagehisa;
  • Shinto Munen Ryu - Watanabe Noboru, Shibae Umpachiro, Negishi Shigoro;
  • Musashi Ryu - Mihashi Kanichiro;
  • Jikishin Kage Ryu - Tokuno Kanshiro, Abe Morie;
  • Kyoshin Mechi Ryu - Sakabe Daisaku.

[editar] Período Showa

Com a derrota na Segunda Grande Guerra Mundial e por ordem do Comando Supremo das Tropas Aliadas no Japão, em dezembro de 1945, a prática do kendô foi totalmente proibida por ser considerada manifestação do ultra-nacionalismo pré-guerra e parte importante do treinamento militar durante a guerra.

Mas, em 1952, com a entrada em vigor do Tratado de Paz, o kendô começou a trilhar o caminho da revitalização e nesse mesmo ano foi criada a Liga Nacional de Kendô.

A tradição do kendô não permaneceu como no passado, adequando-se aos novos tempos e modificando-se para melhor adaptação à sociedade moderna, formando o embrião do kendô contemporâneo.

[editar] Origens no Brasil

A história das artes marciais japonesas no Brasil, entre elas o kendô, começa com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, em 1908. Inicialmente, o kendô foi praticado individualmente pelos imigrantes e seus descendentes, principalmente no interior do estado de São Paulo.

Em 1933, na comemoração dos vinte e cinco anos do início da imigração japonesa, os praticantes de judô e kendô fundaram a primeira associação brasileira de judô e kendô, a “Hakoku Ju-Ken Do Ren-Mei”. Desta época, destacam-se os nomes dos mestres Eiji Kikuchi Sensei, Ryunosuke Murakami Sensei e Kobayashi Sensei. O kendô também era ensinado nas escolas de língua japonesa existentes nas colônias.

A derrota do Japão na 2.ª Guerra Mundial também afetou a vida dos japoneses no Brasil. Escolas de língua japonesa foram fechadas e qualquer manifestação da cultura japonesa foi proibida. Desta forma, o kendô só volta a ser praticado no Brasil depois do final da 2.ª Guerra Mundial e só toma contornos mais organizados alguns anos depois, com a fundação da Associação Brasileira de Kendô (“Zen Haku Kendo Ren-Mei”, em japonês), em 1959.

Na cidade de São Paulo, os primeiros treinamentos foram provisoriamente realizados no centro da cidade e posteriormente, no inicio da década de 1960, passaram a ocorrer na sede de um dos primeiros clubes fundados pela comunidade nipo-brasileira, a Associação Cultural e Esportiva Piratininga (ACEP). Ainda hoje a ACEP vem sendo também o principal local de realizações de eventos oficiais, apresentações, campeonatos e exames de graduação no Brasil.

No estado do Rio de Janeiro, apesar de ter sido o local da primeira colônia agrícola japonesa no Brasil (Fazenda Santo Antônio, próximo da cidade de Macaé), apenas em meados da década de 1960 o Kendô começou a se organizar.

[editar] Kendô moderno

[editar] No mundo

O número de praticantes de kendô vem aumentando continuamente (em 2005 a FIK estimava que no Japão existam cerca de 1.2 milhões de praticantes, e no mundo 2.0 milhões)

[editar] No Brasil

Acompanhando a evolução do kendô no Japão, considera-se que a era moderna do kendô no Brasil começou na década de 1970. É nessa época que Chicara Fukuhara retorna do Japão trazendo os ensinamentos e orientações do novo kendô dos mestres japoneses. Este fato pode ser considerado um dos principais marcos do início do kendô contemporâneo no Brasil. A partir de então, o kendô passa a ser cada vez mais praticado, principalmente na cidade de São Paulo e no interior do estado.

[editar] Resultados do Brasil em Torneios Internacionais

Como é evidenciado nos resultados alcançados em torneios mundiais, o Brasil tem a tradição de bons resultados nas competições internacionais desde 1970, quando foi fundada a FIK:

  • 1970 – 3.º lugar equipes – I Torneio Mundial Tóquio
  • 1977 – 3.º lugar equipes – II Torneio Mundial Juvenil em Tóquio
  • 1982 – 2.º lugar equipes – V Torneio Mundial em São Paulo
  • 1985 – 2.º lugar equipes – VI Torneio Mundial em Paris
  • 1988 – 3.º lugar equipes – VII Torneio Mundial em Seul
  • 1997 – 3.º lugar equipes – X Torneio Mundial em Kyoto
  • 1997 – 2.º lugar individual – X Torneio Mundial em Kyoto: Miwa Onaka
  • 2000 – 2.º lugar feminino equipes – XI Torneio Mundial em Santa Clara, EUA
  • 2000 – 3.º lugar masculino equipes – XI Torneio Mundial em Santa Clara, EUA

[editar] Organização do Kendô

[editar] No mundo

Em 1970 foi fundada a Federação Internacional de Kendô (FIK), com sede no Japão. São mundialmente regidos e regulamentados pela FIK as atividades de kendô, iaidô e jodô. Até 2008 haviam filiados na FIK 47 entidades representantes de países.

[editar] No Brasil

Como fatos marcantes que acompanham o crescimento do Kendô no Brasil, podemos citar:

  • outubro de 1981 – criação a Federação Paulista de Kendô (FPK).
  • 29 de julho a 3 de agosto de 1982 – o Brasil é país-sede do 5.º Campeonato Mundial de Kendô, realizado na cidade de São Paulo.
  • agosto de 1998 – é criada a CBK, tendo como filiadas fundadoras: Federação Paulista de Kendô (São Paulo), Federação de Kendô do Estado do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), Associação Metropolitana de Kendô (Brasília), Associação Kendô Shinko-kai de Londrina (Paraná).

Existem mais de trinta academias de kendô filiadas a CBK, distribuídas por todas as regiões do país. A prática está mais desenvolvida nos estados do Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pernambuco, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará e São Paulo (onde está localizada a maior quantidade). Também existem grupos organizados que treinam kendô sob a orientação da CBK em estados como Minas Gerais, Alagoas, Bahia e Paraíba, entre outros.

De acordo com indicação da CBK, o ensino do kendô não pode assumir caráter profissional ou comercial. Desta maneira, entre os dojos filiados à CBK, não é permitida a cobrança para o ensino do kendô, salvo a quantia necessária as atividades do Dojo (academia).

[editar] A prática

A prática do kendô não se limita ao manejo da shinai (espada de bambu), Bokuto (espada de madeira) ou katana (espada longa japonesa), mas abrange também a prática e cultivo do espírito e do Reigi (etiqueta).

Nesse sentido, o item 3 do artigo 6, do capítulo "Supplemental Provisions of FIK Constitution" discorre que "No caso em que o ensino do kendô é utilizado de má fé para qualquer propósito comercial", há razões para pedido de expulsão de um membro.

O ken (espada) é estudado de duas formas: prática (shiai) e o kata.

[editar] Objetivo da prática de Kendô:
  • Não golpear pontos incorretos.
  • Não desperdiçar golpes.
  • Golpear atacando e quebrando a postura do adversário.
  • Golpear com destemor, 'sem pensar na morte'.

[editar] Kamae

Há cinco diferentes Kamae em kendô, com um número de variantes. Segundo a AJKF, temos as seguintes definições:

1. Chudan no Kamae: Este é o mais básico e fundamental Kamae, e serve como a raiz de todos os outros. Chudan também é conhecido como o Kamae de água devido à sua flexibilidade e capacidades adaptativas. Um forte Chudan no Kamae serve tanto para produzir um forte ataque como uma defesa impenetrável.

2. Jodan no Kamae: Também conhecido como "Hi no Kamae" (Kamae de fogo) ou de "Ten no Kamae" (Kamae do Céu) é um kamae agressivo, tanto espiritualmente e fisicamente. Quando se utiliza Jodan, podemos pressionar o oponente com seus ataques, assim como com o seu espírito. A eficácia da Jodan é dependente mais do aspecto espiritual do que físico, daí Jodan é considerado um "Kokoro no Kamae"; Uma atitude ou mentalidade.

3. Gedan no Kamae: Gedan no Kamae também é conhecido como o Kamae da Terra. Embora possa parecer-se com uma postura defensiva, é uma postura capaz de atacar adversários, impedir um ataque flagrante e criar oportunidades. Também ajuda a disfarçar a intenção do lutador. Muitos vão usar Gedan no Kamae como uma transição da Chudan no Kamae para um ataque de Tsuki. Segundo o livro "Kendo Fundamentais": "O Gedan no Kamae é usado quando você baixar o kensen e, ao mesmo tempo que protege o seu próprio corpo, evoluir para um ataque que está em conformidade com os movimentos e as ações do adversário."

4. Hasso no Kamae: Hasso no Kamae também é conhecido como o Kamae da Madeira. Quando assume-se Hasso no Kamae, ele deve ser reto e forte como uma árvore, capaz de respeitar os seus adversários "de cima". Hasso é considerada uma variante do Jodan no Kamae, e portanto é uma postura agressiva, mas é pouco utilizada no kendô moderno, exceto em momentos de transição quando utilizando Jodan no Kamae.

5. Waki Gamae: Waki Gamae também é conhecido como o Kamae de metal ou a Kamae de Ouro, indicando uma espécie de "preciosidade escondida". Esse Kamae é pouco utilizado no kendô moderno, podendo ser visto no Nihon Kendo Gata: Yonhonme, e no Kodachi no Kata Nihonme.

Cada um dos diferentes Kamae acima citados tem as suas origens na luta, nos antigos estilos do Kenjutsu. Hoje são praticados no Kata, ajudando a manter os laços entre kendô moderno e suas origens e, em alguns casos, como sempre o chudan e mais raramente o Jodan, também na luta.

[editar] Shiai (luta)

Devido à existência de lutas e campeonatos em âmbitos regionais, nacionais e internacionais, o kendô possui um aspecto competitivo bastante relevante, mas preservando sempre suas características marciais e a etiqueta (Reigi), destacando-se entre as artes marciais japonesas. No kendô o critério de golpe válido/letal (yûkô-datotsu) é bastante subjetivo e está diretamente relacionado às origens marciais da arte, que prega a sincronia perfeita entre a energia do praticante ("Ki"), a trajetória e a precisão da espada (técnica, "ken") e a postura (necessária para a correta aplicação da força e a correta movimentação) ("tai"). Essa sincronia é denominada de Ki-Ken-Tai Icchi (気剣体一致), e é um dos ensinamentos fundamentais do kendô.

No kendô as lutas são realizadas com uma espada de bambu, chamada de shinai (竹刀), e são usados protetores para todas as regiões de ataque, além de uma vestimenta especial: hakama (calça), dogi ou keiko-gi (camisa/blusa) e bogu (armadura). Alguns praticantes usam ainda o obi (faixa).

São executados cortes no centro e nas laterais da cabeça (men-uchi), no antebraço (kote-uchi), na lateral do abdome (dô-uchi) e na garganta (estocada) (tsuki), e cada golpe deve ser anunciado com o Kiai, ou seja um grito que demonstre o espírito e a vontade do kenshi. As lutas duram de três a cinco minutos e são disputadas na forma de melhor de três, e o vencedor é aquele que aplicar primeiro dois ippon, ou seja, golpe considerado letal. Existe a possibilidade de haver enchô ou prorrogação em caso de empate no tempo regulamentar, e o vencedor é aquele que aplicar primeiro um ippon.

Nas lutas, conforme regulamento da FIK, é possível utilizar técnicas de Itto-ryu (uma única espada longa) ou Nito-ryu (duas espadas - uma longa e outra curta).

[editar] Nihon Kendo Gata

Além da luta (shiai), um praticante de kendô também se aperfeiçoa nos Kata , técnicas específicas de kendô que consistem em conjuntos de movimentos pré-determinados. Atualmente, existem sete kata para Tachi, a espada grande (também conhecida como Katana), e três para Kodachi, a espada curta (também conhecida como Wakizashi).

No kendô, os Kata são sempre praticados em duplas, ao contrário das outras artes marciais, onde quem executa o Kata está sozinho, lutando contra oponentes imaginários.

Como no Shiai (luta), nos 10 (dez) Kata do kendô existem muitos detalhes filosóficos, além da técnica apurada, que devem ser desenvolvidos simultaneamente em diferentes Kamae (posições).

[editar] Bokuto Ni Yoru Kendo Kihon Waza Keiko Ho

Esse método de treino básico com Bokutô vem sendo desenvolvido pelos mestres da FIK desde 1970, sendo uma série de Kata com Bokutô, com o propósito de:

  • Ajudar o praticante a aprender o conceitos de que o Shinai é a representação da Katana;
  • Desenvolver uma técnica e base solidas, que podem ser diretamente utilizadas na prática com Bogu;
  • Desenvolver no prativante habilidades e conhecimento para a prática do Nihon Kendo Gata;
  • Desenvolver Reihō (etiqueta).

De uma maneira geral, nesse treino é possível treinar o ângulo correto da lâmina da Katana quando o golpe é aplicado. Dessa maneira diminui-se a diferença entre o treino e aplicação dos golpes com Shinai e com Bokuto, ou Katana.

[editar] Aspecto filosófico

O kendô é uma das artes marciais modernas japonesas que mais mantém valores ligados às suas raízes. O texto abaixo, da All Japan Kendo Federation (Federação Japonesa de Kendô), fala dos objetivos de todos os kenshis:

O Objetivo do kendô é disciplinar o caráter humano pela aplicação dos princípios da katana

O propósito de se praticar kendô é:
Moldar a mente e o corpo,
Para cultivar um espírito vigoroso,
E pelo treinamento rígido e correto,
Lutar para desenvolver-se na arte do kendô,
Obter respeito à cortesia e à honra,
Para relacionar-se com os outros com sinceridade,
E para sempre ter como objetivo o auto-aperfeiçoamento.

Dessa maneira será possível uma pessoa amar seu país e sociedade, contribuir para o desenvolvimento da cultura e promover a paz e prosperidade entre todos os povos.

[editar] Graduações

A partir do 1.º kyu, de acordo com as normas da FIK (no Japão), as graduações são controladas pelas confederações e federações nacionais filiadas. Graduações de 6.º kyu a 2.º kyu são de responsabilidade do próprio dojo.

No kendô, não são usadas faixas para mostrar o nível do praticante. Não há indicações ou insígnias que demonstrem o grau de um kenshi.

A graduação máxima do kendô atualmente é o 8.º dan (equivalente em outras artes à faixa preta de 8.º nível), mas no passado já chegou a existir até o 10.º dan.

Paralelamente, existem títulos que podem ser conferidos a praticantes que contribuíram para a arte, comoPredefinição:Necessita fontes:

  • Renshi ("praticante avançado", conferido para kenshi de 6.º dan e acima);
  • Kyôshi ("praticante professor", conferido para kenshi de 7.º dan e acima);
  • Hanshi ("praticante modelo", conferido para kenshi de 8.º dan).

[editar] Ligações Externas

Ferramentas pessoais