Yoshiko Sano

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[editar] YOSHIKO SANO

Nasceu no dia 12 de Outubro de 1921, na província de Aichi, no Japão, terceira filha de Kanando Tomida que desembarcou com a família no porto de Santos, em 1933, a bordo do Arabia Maru. Sua família veio composta pelos pais, Kanando e Yoshino, e pelos cinco filhos, Massao (15), Kimie (13), ela, Yoshiko (11), Kazuji (8) e Saburo (6). Um ano após a chegada ao Brasil, nasceu o caçula Ciro. A viagem durou 59 dias, no entanto, para a pequena Yoshiko, ainda com 11 anos de idade, foi muito divertida! Ela se lembra, por exemplo, de que, em um dos portos estrangeiros, uma criança nativa, acostumada com a presença dos navios japoneses que passavam por ali, trouxe-lhe uma corda e brinquedos, com os quais brincaram juntas, mesmo sem se entenderem devido às línguas diferentes!

A vinda da família ao Brasil se deve a um sonho do pai que desde os vinte anos de idade já desejava sair do Japão. Ele queria conhecer o exterior, Havaí, Manchúria, qualquer lugar. Mas como era o primogênito, pela tradição, no futuro, deveria cuidar de seus pais. E tudo se complicou ainda mais porque sua mãe estava doente, nessa época.

Diferentemente da maioria dos japoneses que trabalhavam no campo, seu pai era carpinteiro. Por isso, quando houve aquele grande terremoto em Tóquio, capital do Japão, o governo convocou todos os profissionais especializados para reconstruírem a cidade e ele acabou ficando três anos sem retornar para casa Yoshiko, nessa época, com três a quatro anos, chegou a achar que não tinha pai. A avó, mãe dele, é que cuidava de todos.

Até que resolveram partir para o Brasil, apesar de seus irmãos pedirem para que não fossem. Alguns parentes chegaram a oferecer-lhe ajuda. Todos achavam loucura, ele querer ir para o outro lado do mundo, e ainda com cinco crianças. Mesmo assim ele não deu ouvido a ninguém… Seu espírito aventureiro falou mais alto! Os filhos também não queriam ir e ter de se afastar dos amigos e da escola. Antes da partida, chegaram a lhe propor para que fosse sozinho e deixando as crianças, mas não aceitou. Quinze anos depois, no Brasil, em meados 1948, lamentava ter trazido toda a sua família, e para morar no meio do mato, em Santana do Parnaíba. Em alguns momentos chegou a culpar a esposa, que por ser fraca, precisando sempre ir ao médico, impedia-o de trabalhar. Aos poucos, começou a beber. E a beber. Até que, quando foi ao médico, já estava com cirrose. Morreu pouco tempo depois.

Logo que chegaram ao Brasil, foram trabalhar na Fazenda São Joaquim, como colonos. Um ano depois, foram morar em uma casa onde um córrego passava por debaixo da mesma. Yoshiko e a mãe, que eram as mais fracas da família, chegaram até a pegar malária. Ela se lembra de que tinha febre alta sempre na hora do almoço e, com isso, delirava, a ponto de imaginar estar vendo o forro da antiga casa no Japão, porque, aqui, onde morava, não tinha. Depois de uma hora, a febre passava, mas não podia almoçar porque, em seguida, tinha de fazer a janta para todos que estavam na roça. Chegou a passar meses com febre. Soube que as pessoas que moraram lá, anteriormente, também haviam pego maleita.

O que ela se lembra também é de que, quando colonos, a cada dois sacos de café que colhiam, um ficava para o patrão. Dois anos depois foram para Onda Verde, bem mais para o interior do estado de São Paulo, onde arrendaram uma terra para plantar algodão, e onde “jogavam seis sementes” para, depois de brotarem, terem de arrancá-los, mas deixando dois pés. “As costas doíam muito para arrancá-los”, recorda ela.

A irmã Kimie havia se casado com Tsunehiro Sano, com quem teve dois filhos. Mas, quando o seu caçula estava com um mês de idade, ela veio a falecer de maneira trágica. Como o cunhado viúvo tinha apenas vinte e sete anos e, provavelmente, se casaria de novo, o pai, temendo a possibilidade de seus netos serem criados por uma ‘madrasta’, estranha, combinou com o genro um novo casamento, mas, desta vez, com Yoshiko, sem lhe consultar. Naquela época, conforme faz questão de se lembrar, ela, mulher, não tinha escolha em relação a essas combinações de casamento (omiai). “Não tinha direito a nada. O seu corpo não era seu”, conclui. E tinham sete anos de diferença. Mas ficaram bem casados por quarenta e nove anos, apesar de que, ela, na verdade, iria se casar com o irmão da esposa de um tio. Tudo já estava arranjado. O vestido, o véu e as luvas estavam em casa. Só faltavam os sapatos. Devolveram tudo. Uma prima, de mesma idade acabou se casando com ele.

Mas, enfim, casaram-se em 1940 e foram morar em Onda Verde, com sogra, cunhados e respectivas famílias. “Não sei como cabia tanta gente naquela casa”, recorda. Ela tinha vinte anos de idade e dois enteados-sobrinhos (Kazue, 2 anos e Plínio, um mês). Plínio, teve o Mal de Simioto (de símio = macaco), nome popular em algumas regiões do Brasil (MT, MS, GO), causado pela desnutrição em crianças pequenas pela alergia ao leite de vaca ou incapacidade de digerir o mesmo. A doença aparece normalmente quando o aleitamento materno é substituído por leite em pó. Normalmente desaparece com a volta ao aleitamento materno, ama-de-leite ou substituição por outro tipo de alimento a critério médico. A desnutrição é uma doença de causada por dieta inapropriada, bem como por má-absorção ou anorexia. Mas também pode ter influência de fator social, psiquiátrico ou simplesmente patológico, dos seis meses aos quatro anos. A mãe de Plínio, já estava abalada pelos problemas de saúde e, assim, às vezes dava de mamar, às vezes, não. Ele nasceu forte, mas ficou em pele e osso, até que, uma noite, um médico disse que se conseguisse tomar água a noite toda, teria chance de sobreviver. E Plínio, não apenas sobreviveu, como teve filhos saudáveis e, hoje, aos 68 anos, tem até netos.


Depois de certo tempo, os irmãos Sano resolveram se mudar para Fernandópolis. Por segurança, deixaram Tsunehiro e Yoshiko em Onda Verde na casa onde viveram, mas pouco tempo depois, eles também resolveram deixar a cidade mudando-se para Osasco, na atual Grande São Paulo. A razão da vinda a essa cidade fora devido ao conhecimento da venda de um terreno nessa cidade quando vieram a um passeio. Acabaram comprando-o. Na ocasião, em 1956, Plínio, com apenas dezesseis anos, veio na frente, a fim de cuidar da construção de um armazém no terreno adquirido. Tendo encerrado a obra, os demais membros, ela, o marido, a enteada Kazue, e os filhos de ambos, Tsuneyoshi, Tsuneyo, Hiroko, Natalino e Tomie, vieram definitivamente para Osasco.

O armazém era de secos e molhados, vendia atacado e varejo e tinha uma boa variedade de produtos. Atendiam toda a redondeza, de bicicleta e no carrinho de mão. Chegaram a ter até uma frota de bicicletas. As entregas eram feitas pelo enteado e filhos maiores, enquanto os menores freqüentavam a escola. Yoshiko ajudava no armazém, cuidava das crianças, fazia comida, assava seis frangos que acabava tudo em um dia. “Trabalhávamos muito. Por isso, minha perna é ruim até hoje... por ficar em pé tempo demais”, afirma.


A mãe de Yoshiko, culpada algumas vezes pelo marido pelo que passavam no Brasil, por sua saúde frágil, viveu até os cento e um anos registrados (mas, acreditam que tenha sido cento e quatro). Sem contar que morreu lúcida e forte, e os médicos alegando a idade como causa! No Japão, aos nove anos, era ainda analfabeta porque desde os seis anos fora enviada a outra cidade para ser babá de três crianças menores. Certa vez, quando os patrões a enviaram de volta para uma visita à família, simplesmente a colocaram no navio. Por isso, ao desembarcar em seu destino caiu em prantos, por não saber como chegar à casa de um tio. Uma pessoa que passava a ajudou. Ao tio ela explicou que não freqüentara a escola, naquele período, porque sua obrigação era apenas cuidar das crianças. Mesmo assim, de volta à casa do tio, tendo de ajudar na roça, acabou encontrando também dificuldades para ir à escola. Mas no Brasil, mesmo analfabeta em português, se deslocava de Santana do Parnaíba a Osasco sozinha, apenas pelos números dos ônibus que memorizava.

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Mas Yoshiko também teve problemas em razão da maleita que pegou aos doze anos, quando chegou a ficar em pele e osso. O pai queria levá-la ao médico, mas não tinha dinheiro. Com isso ela continuou trabalhando na roça, fazendo apenas “trabalhos leves”. Acabou se curando naturalmente. “Não sei como estou viva até hoje, sou a única que sobrou”, confessa. O marido que chegou a pesar 98 kilos, tinha uma diferença de 50 kilos em relação a ela. Ele veio a falecer em 1989.

A alfabetização dela foi realizada aos poucos. Fechava o armazém, colocava a caçula Tomie para dormir e com o marido atravessava a rua para, apenas durante uma hora, aprenderem a escrever. Quando veio do Japão, mesmo com todas as dificuldades, viera alfabetizada da língua pátria. Depois de casada, sempre lia um jornal japonês, que assina até hoje. O marido sempre lhe comprava o jornal porque tinha uma seção para donas de casa. Ele, de sua parte, lia sempre um jornal brasileiro. Ela foi só aprender melhor a ler a Língua Portuguesa no Mobral, em Osasco, onde chegou a ser a primeira aluna da turma. Adora ler… seja livros ou jornais… o que a fez aprimorar a eficácia em sua leitura. Recentemente, freqüentou a Faculdade de Educação Física da Terceira Idade na FMU por cinco anos, chegando a se formar, e receber o seu diploma!

Até os 85 anos de idade, participou intensamente do Radio Taisou na Associação da Província de Hiroshima, e do Karaokê e Coral no Esperança Fujinkai do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social). Com exceção do karaokê já retomou essas atividades, mas não com a intensidade de antes. E sua vitalidade é tamanha que se recorda de quando, num Bonnenkai (confraternização de final de ano) chegou a ganhar, no bingo, a maior Cesta de Natal do dia, de tão feliz, carregou-a sozinha até sua casa, num percurso de 500 metros. A conseqüência foi dois dias com dores no ombro. Metódica, acorda todos os dias às cinco da manhã, toma meio copo de iogurte, vai para o rádio taisou, volta, toma café da manhã; almoça ao meio dia, em ponto; janta às cinco horas, em ponto e dorme cedo. Mora com a filha caçula, Tomie. Cumpre sua agenda no Esperança Fujinkai e ainda, às vezes, ao ser chamada para ajudar nos eventos, “vou sem pestanejar”, aceita com firmeza.“Sempre fui alegre e gostei da vida… por isso, estou viva até hoje!”, conclui taxativa.

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