Haiku

De Nikkeypedia

Poema japonês de 17 sílabas (três versos de cinco, sete e cinco sílbas cada)

Haikai (Haïku ou Haicai) é um forma poética de origem japonesa, surgida por volta do século XVI, que valoriza a concisão. O haikai é a arte de dizer o máximo com o mínimo.

Cada haikai capta um momento de experiência, um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida.

O grande mestre haikaista foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer do haikai uma prática espiritual, unindo a poesia com os princípios zen-budistas.


Haikai no Brasil

O haicai desembarcou no Brasil em 1919 com o poeta Afrânio Peixoto , e de lá para cá viveu momentos diversos: ganhou rima, perdeu rima, ganhou título, perdeu título, movimentou polêmicas acerca de sua forma e dividiu correntes. A primeira mulher a publicar haicais no Brasil foi a Paranaense Helena Kolody, em 1941.

Uma das correntes defende o tradicional haicai Japão japonês. Seguida inicialmente por imigrantes japoneses, como Teruko Oda, define haikai como um poema de três versos, escrito em linguagem simples, sem rima, com dezessete sílabas poéticas (sendo cinco no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro), e com uma referência à natureza expressa por uma palavra (o chamado kigô), que deve representar também a estação do ano. Alguns nomes que vêm se destacando nessa corrente: Edson K. Iura, Francisco Handa, Douglas Eden Brotto, Francisco Pichorim, Paulo Franchetti, Luis Antônio Pimentel, Antônio Seixas, Osman José de Oliveira Matos, Jorge Fonseca Ramos, Wandi Doratiotto e outros.

A primeira incursão do haikai no Brasil, entretanto, foi através de Guilherme de Almeida, para quem o haikai deve ter estrutura metro métrica rígida, rima e título. Em um esquema proposto por Almeida, a 5ª sílaba do 1º verso rima com a 5ª sílaba do 3º verso, e o 2º verso possui rima interna (2ª com 7ª sílaba).

A terceira corrente incorpora o haicai à tradição brasileira, não valorizando tanto a métrica nem o kigô. São poetas como Paulo Leminski, Helena Kolody, Millôr Fernandes e Alice Ruiz, que além de questionar a forma do haikai, ampliam suas possibilidades temáticas. Chega-se a ter, hoje, haicais com temática erótica, como os de Olga Savary.

Exemplos


o saldo da noite
ramalhete de tulipas
vazias de chope
Roberto Menezes


dia de finados
sobre a lápide esquecida
só as nuvens choram


saudando a manhã
cunhantã colhe no campo
a flor da suinã


menino, solte o balão
Iansã leva tua esperança
pra Xangô São João
Rogério Lima



Noite chuvosa
Vai e vem das folhas
Dança do vento


Desfolhado
O abacateiro chora
Gotas de orvalho
César Silveira



fim de tarde
depois do trovão
o silêncio é maior
Alice Ruiz



velho tanque
uma rã salta
barulho d'água
Bashô


luz do sol
que a folha traga e traduz
em verde novo


céu azul
que vem até onde os pés
tocam a terra
(Luz do Sol)


no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro
Carlos Seabra


noite adentro
o chute na porta
o grito de assalto
Carlos José


bela tarde
ela indo
e eu com saudade
Carlos José


folha quando cai
a vida ainda aproveita
morre em piruetas
Osman Matos


a boquinha da noite
come as sombras que cresceram em vão
no entardecer
Osman Matos


grade e liberdade
não rimam; analise
escada e corrimão
Osman Matos


paradas na areia
as pegadas de uma alma
andando sem corpo
Osman Matos


quando será
que os batimentos cardíacos
regerão o tempo?
Osman Matos


toquei a lua
molhando a ponta dos dedos...
Seu riso ecoou
Osman Matos


nuvens brancas são
a princípio artistas-gênio
da imaginação
Osman Matos


o homem é uma máquina"
(Descartes).Descarte o tic
e taque-lhe o tum-tum
Osman Matos

Link

ja:俳句


Exemplo:

Poema de Verão



ôta ko ni kami naburaruru atsusa kana

A criança às costas Brincando com meu cabelo — Que calor!

Sono-jo

hashii shite saishi o sakuru atsusa kana

Saio na varanda Para fugir da mulher e filhos. Que calor!

Buson

otoko bakari no naka ni onna no atsusa kana

Apenas homens, E uma mulher entre eles. Que calor!

Shiki

kumo no mine mizu naki kawa o watari keri

Cúmulos-nimbos Atravessando os céus Sobre o rio sem água.

Shiki

samidare o atsumete hayashi mogamigawa

Recolhendo toda A chuva do mês de maio Corre o rio Mogami.

Bashô

yûdachi ya kusaba o tsukamu murasuzume

Um aguaceiro — Os pardais da aldeia Se agarram ao capim.

Buson

yûdachi ni utaruru koi no atama kana

Chuva de verão. Os pingos batem Nas cabeças das carpas.

Shiki

junrei no bô bakari yuku natsuno kana

Apenas Os bastões dos peregrinos — Campo de verão.

Ishû

natsukawa o kosu ureshisa yo te ni zôri

O rio de verão — Que alegria atravessá-lo De sandálias à mão.

Buson

hiya-hiya to kabe o fumaete hirune kana

Refresca um pouco Pôr os pés na parede durante a sesta.

Bashô

hirune shite te no ugoki yamu uchiwa kana

Ao fazer a sesta, A mão que segura o leque Pára de se mexer ...

Taigi

me ni ureshi koigimi no ôgi masshiro naru

Que coisa linda, Agitando o leque branco, É o meu amor.

Buson

hito kitara kawazu to nare yo hiyashi uri

Oh, melões frescos, Se alguém aparecer, Transformem-se em rãs!

Issa


kyô nite mo kyô natsukashi ya hototogisu

Mesmo em Quioto, Saudade de Quioto — O canto do cuco ...

Bashô

chôchin no shidai ni tôshi hototogisu

Se afasta a lanterna Sumindo na escuridão — O canto do cuco.

Shiki

hototogisu naki naki tobu zo isogashiki

Olhe para o cuco Que só canta, canta e voa — Que vida ocupada!

Bashô

uguisu no naku ya chiisaki kuchi aite

O canto do rouxinol E seu biquinho — Aberto.

Buson

tobu ayu no soko ni kumo yuku nagare kana

Salta uma truta — Movem-se as nuvens No fundo do rio.

Onitsura

te no uchi ni hotaru tsumetaki hikari kana

Na palma da mão, Um vagalume — Sua luz é fria!

Shiki


shizukasa ya iwa ni shimiiru semi no koe

Quietude — O canto das cigarras Penetra nas rochas.

Bashô

yagate shinu keshiki wa miezu semi no koe

Nada indica Que ela vá morrer — Canta a cigarra.

Bashô

asakaze no ke o fukimiyuru kemushi kana

Veja o vento matinal Soprando os pêlos Da taturana!

Buson


ashimoto e itsu kitarishi yo katatsumuri

Quando é que você veio Para junto de meus pés, Oh, caramujo?

Issa

katatsumuri soro soro nobore fuji no yama

Caramujo, Suba sem pressa O Monte Fuji!

Issa

hae utsu ni hana saku kusa mo utarekeri

Ao matar a mosca A erva que tem flores Tambem esmagada.

Issa

waga yado wa kuchi de fuite mo deru ka kana

Em minha cabana É só assobiar Que vêm os mosquitos!

Issa

nomi no ato kazoenagara ni soeji kana

a mâe conta enquanto dá de mamar as picadas de pulga.

Issa

nomi domo mo yonaga darô zo sabishikaro

Também para as pulgas A noite deve ser longa E solitária.

Issa

rôsoku ni shizumarikaeru botan kana

Assim como a vela, Mergulhada no silêncio, A peônia

Kyoroku


ara tôto aoba wakaba no hi no hikari

Quão glorioso, Nas folhas verdes, folhas tenras, O brilho do sol!

Bashô


yamabata o kosame hareyuku wakaba kana

Entre a roça e a montanha, A chuvinha vai parando ... A folhagem nova!

Buson


hirugane ya waka take soyogu yama zutai

Sinos da tarde — Na passagem da montanha Tremula o bambu novo.

Jôsô

hasu no hana saku ya sabishiki teishajô

A solidão De uma estação de trem — Flores de lótus.

Shiki

keshi saite sono hi no kaze ni chiri ni keri

Abriu-se a papoula E ao vento do mesmo dia Ela veio ao chão.

Shiki

natsugusa ya tsuwamonodomo ga yume no ato

tudo o que restou dos sonhos dos guerreiros — Capim de verão

Bashô