Período Heian

De Nikkeypedia
Série de artigos sobre
História do Japão
Predefinição:Editar

O período Heian (japonês: 平安時代, Heian-jidai, "período da paz") é a última divisão da história clássica do Japão, situando-se entre os anos 794 e 1185. Foi o período da história japonesa em que o confucionismo e outras influências da cultura chinesa estavam em sua plenitude. O período Heian é considerado o auge da corte imperial japonesa, e foi um período voltado para o desenvolvimento das artes, especialmente poesia e literatura.

História

O período Heian teve início em 794, após a mudança da capital do Japão para Heian kyō (atualmente Kyoto), pelo quinquagésimo imperador japonês, Kammu. O período é notório pela ascenção da classe samurai e pelo desenvolvimento de uma cultura muito admirada nos períodos seguintes.

Para fugir da miséria, os camponeses procuraram refúgio nos shôen, terras originárias do aumento da população e da conseqüente falta de terreno para distribuição entre os habitantes

Chama-se Era Heian o período que se inicia em 794, com a mudança da capital para a cidade de Heian (atual Quioto), até 1185, quando Yoritomo, chefe do clã Minamoto, instala-se em Kamakura (atual província de Kanagawa). Ao todo, foram praticamente 400 anos nos quais a nobreza reinou com requinte e glamour.

Política

No final da Era Nara (710~794), para tentar fugir da vida miserável, os camponeses procuraram refúgio nos latifúndios dos nobres, em grandes templos e em clãs regionais, ou abandonaram suas terras e optaram por uma vida sem rumo. Os latifúndios eram chamados de shôen e surgiram como resultado da flexibilização das leis que norteavam o sistema político de ritsuryô.

Os shôen originaram-se do aumento da população e da conseqüente falta de terreno para distribuição entre os habitantes. Para solucionar a falta de terras públicas produtivas, a corte abrandou as leis do ritsuryô e permitiu a privatização dos terrenos para exploração, expedindo a lei que isentava o pagamento de impostos sobre os terrenos recém-explorados. Assim, templos xintoístas e budistas, clãs regionais e nobres foram ampliando cada vez mais os seus shôen, tendo à disposição maior número de mão-de-obra e de utensílios agrícolas. Entre os pequenos proprietários, alguns optaram por doar suas terras para grandes senhores de shôen, a fim de se tornarem funcionários públicos e administradores dos latifúndios.

Com dificuldades, os camponeses venderam suas terras aos nobres, aos templos e aos grandes clãs, transformando-se em arrendatários. Assim, buscavam livrar-se do pesado imposto, que passou a ser responsabilidade do senhor do shôen, cabendo aos arrendatários o pagamento de um pequeno tributo fundiário anual ao senhor das terras. Isso diminuiu o arrecadamento de impostos e afetou o cofre público. A corte cobrava impostos sobre as terras, e não sobre a pessoa física. Entretanto, a falta de autoridade dos kokushi (espécie de governador) estimulou os senhores de terras a encontrarem formas de impedir a entrada daqueles em suas propriedades, agindo à revelia do governo ao não pagarem impostos e exercerem o direito de policiamento dentro dos shôen. Os senhores de terras ficavam em Quioto, enquanto seus administradores tomavam conta dos shôen. Recebendo treinamento voltado para o combate militar, esses administradores organizavam-se em grupos chefiados por herdeiros de famílias nobres, que, mais tarde, dariam origem à classe dos samurais.

Economia

Além da economia monetária, em fins dos séculos X e XI, a agricultura teve o impulso do desenvolvimento tecnológico. Os utensílios de ferro, anteriormente exclusivos de nobres e senhores de terras, foram popularizados, chegando aos camponeses. Bois e cavalos passaram a ser utilizados na agricultura e, como fertilizante, iniciou-se o emprego do adubo animal, além do capim e das cinzas. Tudo isso aumentou a produção das colheitas. As atividades madeireira e pesqueira também foram intensificadas nesse período.

A ascensão da família Fujiwara

Descendente de Nakatomi-no-Kamatari (posteriormente Fujiwara-no-Kamatari), que contribuiu para a consolidação da Reforma de Taika, a família Fujiwara ampliou o seu poder político respaldada pela fortuna proveniente de seu imenso shôen. Fujiwara-no-Michinaga (966~1027) conseguiu a façanha de casar suas cinco filhas com imperadores. Na qualidade de parente afim, ele tornou-se regente do neto (sesshô) e, após o crescimento do imperador, tornou-se plenipotenciário (kanpaku). Assim, foi introduzido o sistema de governo com participação indireta do imperador.

Extinção de kentô-shi (missão a Tang)

Com o enfraquecimento político da dinastia reinante na China, as missões a Tang foram suspensas. A chegada constante de navios carregados de mercadorias todos os anos ao Japão permitia a absorção de novos conhecimentos por meio dos mercadores. Assim, o fim das missões representava também economia de gastos e riscos. A extinção de kentô-shi partiu de Sugawara-no-Michizane (845~903), conhecido até hoje como o deus dos estudos e da sabedoria. Michizane foi um estudioso que chegou ao grau máximo da hierarquia, ou seja, udajin (primeiro-ministro). O comércio com a China voltaria a intensificar-se cinqüenta anos depois, já na dinastia Sung.

Sugawara-no-Michizane tornou-se vítima de uma conspiração da poderosa família Fujiwara e foi deportado para a comarca do norte da ilha de Kyushu, o forte de Dazai (atual província de Fukuoka), onde faleceu. Posteriormente, espalhou-se a crença de que sua alma, injustiçada em vida, trouxe doenças à capital, forçando a criação de muitos templos xintoístas, a fim de acalmar sua suposta fúria e deter a praga. Ainda hoje, muitos estudantes fazem romaria a esses templos para pedir a graça de Michizane e obter bons resultados nos estudos.

Confrontos e revoltas históricas marcaram o surgimento de uma nova classe social: a dos samurais

Nobreza usava trajes luxuososA Era Heian marcou o surgimento e a ascensão dos samurais e de seus principais clãs, que entraram para a história do arquipélago com suas lutas e revoltas, episódios nos quais eles mediram forças na luta pelo poder. Essa nova classe passou a integrar a estrutura social da época ao lado da nobreza tradicional.

Surgimento da classe dos bushi (samurai)

Enquanto a nobreza, liderada pela família Fujiwara, levava uma vida de muito luxo e requinte, os senhores rurais, donos de shôen, foram aumentando o seu poder de combate treinando guerreiros primeiro para proteger suas terras da invasão alheia, depois para conquistar novas terras. Esses senhores rurais se tornaram funcionários de kokushi (espécie de governador), administradores rurais ou guardiães das terras, recebendo títulos de nobreza ínfima. Eles passaram a liderar grupos de guerreiros, ou seja, de bushi, que nutriam grande admiração pela vida luxuosa da capital. Assim, os nobres enviados ao interior como kokushi pela corte Yamato recebiam tratamento especial, extremamente respeitoso.

Dessa forma, entre os nobres mandados para o interior como kokushi, surgiram aqueles que preferiram permanecer no campo, mesmo após o término do seu mandato, já que não havia perspectiva de uma vida melhor na capital. Alguns nobres que optaram pela vida rural formavam seus grupos de bushi (samurai), formando tropas de combate e tornando-se seus líderes, iniciando, dessa forma, a criação dos clãs.

A Revolta de Masakado

Em 939, Taira-no-Masakado reuniu os bushi insatisfeitos com os enviados da corte que governavam as suas regiões e voltou-se contra o poder da capital. Declarou-se imperador e iniciou a revolta contra os nobres da capital, atribuindo poderes aos bushi, seus seguidores.

A revolta de Masakado foi contida por Fujiwara-no-Hidesato, outro nobre que tinha se instalando no interior (atual província de Tochigi) e por seu primo, Taira-no-Sadamori. Masakado morreu durante a batalha.

Famílias Minamoto e Taira

Com o objetivo de reconquistar o controle do país e refrear o poder da família Fujiwara, o imperador Gosanjô (1034~1073) criou o sistema de insei, pelo qual foi introduzido o cargo supremo de jôkô, que conferia ao imperador que abdicou o poder de governar em nome do novo imperador. Assim, Gosanjô abdicou do trono em favor de Shirakawa (1053~1129) e tornou-se jôkô, governando o país pelo sistema diárquico. Por não ter nenhum parentesco com a família Fujiwara, Gosanjô conseguiu governar o país livremente ao longo de 43 anos como jôkô de três imperadores, contando com a proteção de Minamoto-no-Yoshiie. Enviada para combater os povos de Ezo, a família Minamoto pediu auxílio aos guerreiros da região leste da ilha principal do Japão, com os quais conseguiu vencer a batalha e criou fortes laços. Para conter o crescente poder dos Minamoto, Gosanjô encarregou também a família Taira do serviço de proteção.

Uma guerra entre as famílias destacou-as no panorama político pela primeira vez na história do Japão, em 1156, com a Revolta de Hôgen. Em 1159, a Revolta de Heiji colocou frente a frente os Minamoto e os Taira na luta pelo poder. A batalha foi vencida pela família Taira, que passou a controlar politicamente o Japão. Em 1168, Taira-no-Kiyomori (1118~1181), chefe da família Taira, ocupou o cargo de ministro, dajô-daijin, tornando-se o primeiro samurai a ocupar tal posição. A família Genji ficou, então, à espera da revanche.

Minamoto-no-Yoritomo da família Genji, que havia sido exilado em Izu-no-Kuni (província de Shizuoka), junto com seu sogro, Hôjô Tokimasa, atacou a família Taira em Izu-no-Kuni, mas foi derrotado. Porém os comandantes de guerreiros da região de Kantô juntaram-se a Minamoto-no-Yoritomo. Seu irmão, Yoshitsune, conhecido por sua bravura, também saiu de Ôshu-Hiraizumi (província de Iwate) e passou a lutar ao lado de Yoritomo, que conseguiu, lentamente, instalar-se em Kamakura.

Acometido por uma febre alta, Kiyomori faleceu pedindo, em seu leito de morte, a cabeça de Yoritomo, em 1181.

O último confronto entre os sobreviventes da família Taira e as tropas de Genji aconteceu na Baía de Dan-no-Ura (província de Yamaguchi). A batalha foi vencida pelas tropas de Genji, em 1185. O pequeno imperador Antoku, neto de Taira-no-Kiyomori, morreu junto com sua mãe, filha de Kiyomori, nessa batalha, encerrando, assim, a Era Heian. Em 1192, Minamoto-no-Yoritomo instalou-se em Kamakura, dando início ao shogunato Kamakura. Esse foi o começo da era dos samurais no Japão.

A ascensão e a queda da família Taira, ou seja, Heike, pois a leitura chinesa do ideograma da família Taira é = Heike, foi narrado pelos biwa-hôshi, uma espécie de menestrel. Sua narrativa é conhecida como Heike-Monogatari (contos da família Heike), cujo tema central é a efemeridade da vida.

A vida na corte

Enquanto os bushi levavam uma vida austera, dedicando-se ao treinamento de artes marciais, os nobres se esmeravam em luxo e requinte. Eles vestiam várias camadas de roupas e valorizavam as combinações das cores que se entreviam em golas, mangas e barras, no caso das mulheres. Assim, além da qualidade do tecido, os nobres preocupavam-se também com as cores e seus efeitos. Existiam algumas cores usadas conforme a classe social do indivíduo.

Os nobres dessa época carregavam na maquiagem. Depilavam as sobrancelhas e desenhavam-nas com tinta de carvão. As mulheres adultas tingiam os dentes de preto.

O perfume de incenso, que foi introduzido no Japão junto com o budismo, era usado no dia-a-dia pelos nobres. Cada um criava seu próprio perfume misturando no mínimo dois tipos de incensos. Os nobres perfumavam os seus trajes queimando os incensos para que suas roupas ficassem impregnadas com o perfume criado.

A beleza feminina era medida pelo comprimento dos cabelos, que deviam ser longos, negros e sedosos. O máximo de beleza era ter cabelos mais longos que a própria altura, não ser muito magra e ter a pele bem branca.

Hábitos alimentares dos nobres

A alimentação da nobreza era modesta. O prato principal era o arroz, cozido com a água ou no vapor, acompanhado de peixes, carne de aves, verduras, algas e frutas. Os peixes eram, em sua maioria, secos ou conservados na salmoura. Por influência do budismo, muitos não consumiam peixes ou carnes, ficando desnutridos e doentes. A refeição era feita duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde.

Casamento na nobreza

Os nobres não moravam juntos ao se casarem. O homem possuía residência própria e freqüentava a casa da mulher, que tinha o dever de, com sua família, criar os filhos. A família da mulher também cuidava do marido, vestindo-o e alimentando-o. Tanto a mulher como o homem podiam manter relação com outros parceiros, porém sempre tratando a todos com igual respeito e consideração.

Esse tipo de casamento explica o grande poder e influência que o sogro exercia sobre o imperador, ao casá-lo com sua filha, muito embora o monarca construísse uma residência para suas esposas, em vez de visitá-las na casa de seu sogro.

A necessidade de expressar livremente os sentimentos do povo japonês impulsionou a escrita e a literatura da Era Heian, dominada pelas grandes mulheres

Por que surgiram os fonogramas hiragana e katakana? Os japoneses não conheciam a escrita até ter os primeiros contatos com a cultura chinesa, por volta do século V. À medida que os japoneses foram dominando a escrita (kanji ou ideogramas), a língua e a literatura chinesas, eles começaram a sentir as limitações de se adotar essas formas de comunicação de um outro povo. Assim, para atender à necessidade de expressar livremente os sentimentos do povo japonês por escrito, foram criados os fonogramas hiragana e katakana, elaborados a partir do kanji.

Origem de Man’yôgana

Durante muito tempo, os japoneses liam os kanji à moda chinesa e tentavam entender o significado de cada letra, já que os kanji são ideogramas, ou seja, a transcrição da idéia e não do som, como é o caso da maioria das letras existentes. Pouco a pouco, os japoneses passaram a escolher a palavra adequada para cada kanji e lê-lo à moda japonesa. Por exemplo, o kanji que significa inverno é , sendo a leitura chinesa “dong”; porém, como em japonês inverno se diz “fuyu”, o kanji passou a ser lido “fuyu” também.

À medida que as palavras japonesas também foram filtradas e unificadas, os japoneses tiveram a idéia de transcrevê-las aproveitando apenas o som, ou seja, a sua leitura, desprezando a idéia ou o significado do kanji. Por exemplo, “hana” (flor – ) passou a se escrever também , já que tem a leitura “ha” e , a leitura “na”. Esses ideogramas (kanji) empregados apenas como fonogramas receberam o nome de man’yôgana, já que foram utilizados na transcrição dos poemas japoneses reunidos na antologia intitulada Man’yôshu.

Criação do hiragana

A caligrafia empregada deixou de ser letras de traços retos e definidos, adotando o estilo cursivo, o chamado sôsho-tai, criado na China. Porém, no Japão, o estilo foi adquirindo características próprias, “simplificando” de tal forma os kanji a ponto de ficarem bem diferentes das letras originais. Desse estilo cursivo “simplificado”, nasceu o hiragana. Assim, o hiragana é um conjunto de letras mais curvilíneas.

Criação do katakana

Assim como o hiragana, o katakana também foi criado a partir dos kanji, mas possui características diferentes. O katakana surgiu como sinais gráficos para auxiliar na leitura de textos chineses, ou ainda, para serem inseridos nos poemas ou textos em estilo chinês, a fim de facilitar sua leitura e compreensão. Essas “letras complementares” ofereceram aos japoneses uma maior expressividade, já que podiam escrever com maior desenvoltura até diferenças delicadas e nuanças dos sentimentos.

O katakana foi criado com base em uma parte dos kanji, por isso seus traços são mais retos e rígidos.

O uso tanto do hiragana como do katakana consolidou-se no início do século X, em meados da Era Heian, e são empregados até os dias de hoje, concomitantemente com os kanji.

A literatura em kana = literatura da nobreza

Após a criação dos fonogramas kana, a literatura entre os nobres conheceu o seu apogeu, constituindo a era áurea dos waka – poemas japoneses. Esses poemas que enaltecem a natureza, as diferentes facetas das quatro estações e os elementos da natureza foram criados graças à existência dos kana. O modo de expressão dos poemas contribuiu muito na formação da consciência estética dos japoneses. Nos palácios do imperador e dos nobres, as reuniões para compor e apreciar os poemas tornaram-se cada vez mais freqüentes, deixando de ser apenas um simples passatempo das mulheres. Saber compor poemas tornou-se um importante requisito para manter um convívio social entre os nobres da corte. A falta de interesse pela política ocorreu na mesma proporção em que se ampliou o círculo literário da nobreza.

Obras clássicas

O Tosa nikki (Diário de Tosa) foi escrito por volta do ano 934, por Ki-no-Tsurayuki e incentivou muitas mulheres a escreverem diários, estimulando a criação de muitas literaturas do gênero.

Genji-Monogatari (Contos de Genji), escrito por Murasaki-Shikibu, por volta do ano 1001, é conhecido como uma obra literária clássica de maior volume. Descreve a elegante e requintada vida da corte, os sentimentos do personagem principal, Hikaru Genji, em relação às mulheres com quem se envolve e as intrigas pelo poder. Não se trata de uma simples ficção, mas se observa a preocupação de descrever os usos e costumes, assim como os pensamentos da Era Heian.

Makura-no-sôshi é uma crônica escrita por Sei-Shônagon sobre a vida na corte, que descreve de forma vivaz, com sensibilidade aguçada e com genialidade, os hábitos do cotidiano da corte.

Kokin Waka-shû é uma antologia de 20 volumes que reúne 1.100 poemas compilada por ordem imperial (chokusen-shû), datada do ano de 905.

Rivalidade entre duas literatas

Tanto a autora de Genji-Monogatari, Murasaki-Shikibu, como a de Makura-no-sôshi, Sei-Shônagon, pertenciam à classe média da nobreza e serviram à família imperial na mesma época. Foram duas mulheres que lideraram as tertúlias realizadas na corte. Sei-Shônagon possuía gênio forte, fazendo questão de exibir o seu talento. Murasaki-Shikibu, uma mulher mais recatada e retraída, escreveu críticas severas em relação a essa atitude “exibicionista” de Sei-Shônagon em seu diário.

Por serem os poemas a forma de literatura mais valorizada na Era Heian, as obras dessas duas mulheres, mesmo conquistando muitos leitores, ficaram relegadas a um segundo plano, encaradas como um passatempo de mulheres da corte. Ainda assim, a literatura da Era Heian floresceu graças às grandes mulheres.

A história do budismo no arquipélago foi sedimentada pelo príncipe Shôtoku e encontrou sua sublimação com o monge Ganjin

O ser humano nasce puro e começa a viver em busca da plenitude no decorrer da vida, quando passa por altos e baixos, experimenta emoções e sentimentos diversos. Na juventude, só há olhos para a vida; com o amadurecimento, iniciam-se os questionamentos sobre a vida e o significado da morte. No empenho para se obter uma resposta, várias religiões foram criadas.

No Japão, embora já existisse uma crença nativa entre o povo, o budismo foi acolhido e difundido entre a nobreza, por possuir um embasamento teórico mais racional e por estar mais adequado ao temperamento pacífico dos japoneses e à integração com a natureza.

A história do budismo no arquipélago foi sedimentada pelo príncipe Shôtoku e encontrou sua sublimação com o monge Ganjin. Entretanto, foi na Era Heian que essa religião se transformou em uma cultura genuinamente nacional, isso porque foi no início desse período que foram introduzidas no Japão as seitas Tendai e Shingon.

Os ensinamentos de jôdo (Terra Pura) do budismo foram difundidos em meados da Era Heian pelo desejo de deixar esta vida serenamente, entregando-se às mãos de Amidabutsu (divindade budista mais popular no Japão), e encontrar a paz eterna no paraíso.

Monge Saichô e monge Kûkai

No início da Era Heian, as seitas budistas que mais conquistaram adeptos foram a Tendai e a Shingon, lideradas pelo monge Saichô (767~822) e pelo monge Kûkai (744~835), respectivamente. Nessa época, o budismo ainda era a crença apenas da nobreza, não sendo cultuado pelo restante do povo. O sincretismo entre a doutrina budista e a crença xintoísta acentuou-se, chegando à construção de um templo budista no pátio de um templo xintoísta e à cultuação de uma divindade regional como protetora de um templo budista. Criou-se também a crença de que os diversos deuses eram a reencarnação do Buda, que vinha para este mundo sob diversas formas para salvar os homens.

O monge Saichô teve sua iniciação religiosa atraído pela doutrina da seita Tendai, fundada pelo grande mestre chinês Chigi (Tendai-Daishi Chigi), levada para o Japão pelo monge Ganjin. Saichô aproximou-se do imperador Kanmu e conseguiu, em 804, integrar a missão a Tang (kentô-shi) como missionário oficial, com direito a intérprete e a todas as mordomias de um representante oficial do país. O monge Kûkai também conseguiu viajar à China junto com essa missão, mas na qualidade de um simples bolsista particular.

Durante os oito meses nos quais permaneceu na China (Dinastia Tang), Saichô reuniu sutras da seita Tendai, artes búdicas e estudou o budismo esotérico. Quando voltou ao Japão, ele se dedicou de corpo e alma à fundação da seita Tendai no arquipélago.

O monge Kûkai, por sua vez, permaneceu na China por aproximadamente três anos, visitando vários templos e encontrando-se com o famoso e conceituado monge chinês Keika, no Templo Seiryû, em Changan, do qual recebeu ensinamentos sobre o budismo esotérico. Kûkai também aprendeu sânscrito antes de voltar ao Japão, trazendo consigo além dos vastos conhecimentos adquiridos na China, diversas obras búdicas, como quadros, objetos sagrados e mandala.

A morte do imperador Kanmu acabou com o prestígio que o monge Saichô tinha junto à nobreza, porque o imperador Saga, sucessor de Kanmu, demonstrou maior simpatia pelo monge Kûkai, que se consolidou como autoridade máxima do budismo esotérico. Em Quioto, Saichô começou a transmitir os ensinamentos da seita Tendai instalando-se no Monte Hiei, e Kûkai fundou no Monte Kôya a base do budismo esotérico: a seita Shingon.

Saichô e Kûkai, os dois grandes gênios do mundo religioso, sempre tiveram a proteção dos nobres e dedicaram suas vidas a manter a paz e a glória da nobreza e da corte. Eles foram os primeiros a receberem o título de Grande Mestre no Japão. O monge Saichô recebeu o título de Grande Mestre Dengyô (Dengyô Daishi); e o monge Kûkai, o de Grande Mestre Kôbô (Kôbô Daishi).

O monge Kûya e a seita Jôdo No início do século X, com o enfraquecimento da corte de Yamato, os nobres que fixaram residência no interior e os grandes clãs regionais começaram a adquirir maior poder, iniciando lutas – que se tornaram cada vez mais acirradas com o passar dos anos – para aumentar os seus feudos.

Nesse cenário de incertezas, surgiu o monge Kûya (903~972). Ele pregava entre o povo de Quioto, que vivia sobressaltado com as lutas constantes, os flagelos provocados pela natureza e a fome. Kûya pregava a salvação pelo nenbutsu (oração budista), invocando o Buda Amidabutsu. Ele influenciou vários grandes monges e conquistou muitos adeptos entre o povo, pois levava uma vida ascética, compartilhando suas incertezas e seus sofrimentos, diferente dos monges confortavelmente protegidos pela nobreza. Entretanto, quem consolidou essa doutrina de salvação pelo nenbutsu para alcançar a Terra Pura (Jôdo) foi o monge Genshin (942~1017), que escreveu Ôjo Yôshu, uma obra que explica, num estilo primoroso, a teoria e a prática de salvação da alma pós-morte.

O mappô shisô pregado pelo budismo, a progressiva crença no fim do mundo, fazia com que o povo de Quioto, vítima constante de assaltos, epidemias e outras provações, tentasse encontrar a paz espiritual pelos ensinamentos da seita Jôdo, ou seja, a salvação no mundo da Terra Pura. Dessa forma, começaram a surgir várias “biografias” de pessoas que encontraram a suposta salvação, reunidas numa coletânea conhecida como Ôjo-den.

Com a difusão da seita Jôdo – fundada pelo monge Hônen (1133~1212) em 1175, final da Era Heian – sua arte também prosperou. Foram esculpidas muitas imagens do Buda Amidanyorai e construídos templos suntuosos, na tentativa de recriar o gokuraku (paraíso dos budistas), sendo um dos mais conhecidos o Hôôdô do Templo Byôdoin, em Quioto.

Predefinição:Ligações externas

Veja também

ja:平安時代